24 abril 2003
15 abril 2003
Vá-se lá saber porquê, mas a direcção do jornal para onde trabalho, decidiu não publicar este meu texto que se segue.
Legalização das drogas – Prós e Contras
Um tabu que veio para ficar
Realizou-se no passado dia 8, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, uma conferência subordinada ao tema “Legalização das drogas – Prós e Contras”, que contou com um painel de luxo e, no qual, as ideias e as opiniões, nem sempre coincidiram.
Organizada pela Associação Novo Olhar (ver caixa), que tem, como fim, o indivíduo e o seu bem estar, promovendo estilos de vida saudáveis, bem como cuidados sanitários, sociais e apoio psicossocial e, partindo da ideia base de que a percentagem de pessoas infectadas por HIV/SIDA é cada vez maior em todo o mundo, foi intenção desta associação juntar um grupo de especialistas nesta área para debater, até que ponto, será benéfica a legalização das drogas em Portugal, à semelhança do que acontece com outros países.
Moderada por Luís Conde, estagiário da associação, esta conferência contou com a presença de Filipe Nunes Vicente, psicólogo clínico e docente no Instituto Superior Miguel Torga, Luís Filipe Pereira, jurista e deputado pelo PS na Assembleia da República, Rui Barreto, médico psiquiatra no hospital Sobral Cid e, Pedro Oliveira, mestre em psicologia e assistente social no Centro de Apoio a Toxicodependentes de Coimbra.
Ideias e opiniões
Logo a iniciar a conferência, Rui Barreto confessou que “não tenho a ideia de que, em Portugal, se faça a liberalização das drogas”. Antes pelo contrário, acrescentou, “o espírito da lei é no sentido de se despenalizarem os consumos”. No entanto, alertou que “se se proceder à liberalização das drogas, convém saber que tipo de drogas é que vamos liberalizar”.
Por seu lado, Luís Filipe Pereira, começou por confessar que “não concorda com a posição do actual Governo” e fez uma comparação entre os diplomas que vigoraram até 1993 e, o actual, em vigor desde o ano 2000. Em jeito de conclusão, salientou que “desde que há criminalização, nunca o tráfico de droga decresceu”.
O debate começou a aquecer com a intervenção de Pedro Oliveira, ao afirmar que “vivemos numa Torre de Babel no que respeita à toxicodependência”, salientando que “existe uma via verde, uma política suja e hipócrita em torno desta questão”. O que se pretende, mais do que tudo, “é dar uma resposta clara e inequívoca às pessoas que nos procuram e querem ajuda”. Para além disso, confessou que “legalizar não me parece correcto”.
A mais aguardada intervenção da noite, foi a de Filipe Nunes Vicente que confessou não estar nada optimista em relação ao futuro das drogas no nosso país e, fazendo uma alusão ao que se passa na Holanda, “isso não quer dizer que, se algumas drogas fossem legalizadas, toda a gente passaria a consumir drogas”.
Em jeito de balanço, Eugénia Soares, coordenadora da sede de Coimbra desta associação salientou que, “vamos continuar a promover este tipo de debates, até porque, o público precisa ser informado”.
Caixa
Quem é... Associação Novo Olhar
A Associação Novo Olhar é uma Organização Não Governamental cujo objectivo principal é a prevenção do VIH/SIDA e tem como princípio orientador as políticas de redução de risco. A associação actua em 3 áreas de prevenção: primária, através do “Projecto Rua Jovem”; secundária, através do “Projecto Direito” e do “Plano Tóxico”; e, terciária, através do ”Plano Carpe Diem”. Estas actuações são efectuadas junto das populações com comportamentos de risco (todos nós) e, com comportamentos de risco específicos, ou seja, toxicodependentes, prostitutos(as) e indivíduos infectados pelo vírus do VIH/SIDA.
08 abril 2003
Urge reabilitar, com qualidade
Muito embora haja uma preocupação crescente de construção, traduzida pela introdução de regulamentação específica na área do conforto, verifica-se que os edifícios construídos nos últimos anos não apresentam a qualidade esperada. Pode mesmo afirmar-se que há alguns milhares de fogos, construídos recentemente, com anomalias muito graves que condicionam a sua utilização.
A falta de sistematização do conhecimento, a ausência de informação técnica, a inexistência de um sistema efectivo de garantias e de seguros, a velocidade exigida ao processo de construção, as novas preocupações arquitectónicas, a aplicação de novos materiais e, a inexistência na equipa de projecto, de especialistas em física das construções, entre outros, são causas fundamentais da não qualidade dos edifícios.
Nestas circunstâncias, será da maior importância uma reflexão profunda sobre as causas da patologia da construção em Portugal, bem como a definição de uma estratégia, a médio prazo, para a melhoria da qualidade e da durabilidade dos edifícios, em particular, da sua envolvente.
O investimento na reabilitação e conservação de edifícios em Portugal é extremamente reduzido, não atingindo sequer, os dez por cento do investimento total do sector da construção, contrariamente a muitos países da União Europeia em que esse sector corresponde a uma fatia do mercado superior a 40 por cento. A ausência de investimento na reabilitação tem como consequência a degradação dos centros urbanos e da qualidade de vida dos cidadãos. Assim, considerou-se ser necessário inverter esta situação nas próximas décadas o que, para tal, exige, o desenvolvimento de metodologias para a elaboração de projectos de reabilitação de edifícios, a implementação de estudos de diagnóstico suportados por medições in situ e em laboratório, o conhecimento das anomalias mais correntes, o conhecimento do desempenho dos materiais e tecnologias utilizadas em reabilitação, bem como a elaboração de cadernos de encargos exigências suportadas por manuais exigenciais.
Neste contexto, o I Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios – PATORREB 2003, que teve lugar nos dias 18 e 19 de Março, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), procurou reflectir sobre esta problemática, contribuindo para o diagnóstico da situação e para perspectivar o futuro.
Para além das cerca de cinquenta comunicações, o encontro incluiu também dois workshops sobre o ensino da higrotérmica, patologia e reabilitação e sobre as potencialidades laboratoriais no domínio da higrotérmica.
Perceber os problemas
Presidindo a comissão organizadora, Vasco Peixoto de Freitas, professor catedrático da FEUP, em entrevista ao jornal “O Primeiro de Janeiro” confessou-nos que este encontro teve por base dois objectivos. O primeiro, “analisar a problemática da patologia, ver quais as causas dos problemas, saber o porquê de eles existirem e que estratégias são necessárias desenvolver no futuro para que eles sejam minimizados”. Por outro lado e, porque a reabilitação de edifícios é praticamente inexistente em Portugal, “entendemos que este era o momento oportuno de a discutir, de perceber quais os incentivos, como encarar o problema do ponto de vista metodológico e, do ponto de vista tecnológico, apreciar as soluções para a reabilitação”. Nesse sentido, a principal mensagem que saiu deste encontro, foi direccionada a engenheiros e arquitectos, uma vez que são eles “os principais interventores no património edificado”. Os engenheiros, “porque são responsáveis pelas soluções e pela concepção de algumas soluções de reparação”; os arquitectos, “porque muitos deles intervêm nas características envolventes do próprio edifício”.
De salientar que, neste encontro, onde estiveram presentes cerca de 600 pessoas, dos quais 200 eram alunos, Vasco Peixoto de Freitas entende que “os alunos de engenharia e de arquitectura deveriam participar neste encontro, por forma a conhecer novas realidades, novas linguagens e novos programas”.
No que diz respeito às principais conclusões que foram adiantadas na sessão de encerramento, Vasco Peixoto de Freitas considera que “é claro para todos que não existe qualidade suficiente na construção e que são muitos os defeitos existentes”. Para além disso, uma das principais causas de anomalias na construção, é a humidade e, por outro lado, “é claro que o comportamento das paredes e das coberturas tem que ser estudado e tem que ser requacionado, para se evitarem esses tipos de inconvenientes”. Quanto aos investimentos que têm sido efectuados na área da reabilitação, Portugal é, com efeito, o país que menos tem investido nesta área. A esse respeito, Vasco Peixoto de Freitas é de opinião que “há que encontrar, do ponto de vista estratégico e tecnológico, uma política de incentivos, assim como as soluções e os caminhos para resolver este problema”. Por último, “interessa discutir, do ponto de vista técnico e científico, as principais conclusões da investigação desenvolvida até ao momento”. Os principais motivos que levam a essa falta de investimento, segundo este professor, prendem-se essencialmente com diversos motivos. Em primeiro lugar, “não existem quaisquer dúvidas, de que não existe reabilitação”, acrescentando que, “os centros urbanos das grandes cidades portuguesas estão muito degradados pelos mais diversos motivos”. A título de exemplo, Vasco Peixoto de Freitas refere que “os edifícios mais antigos, do ponto de vista do conforto, não têm as mesmas condições que os edifícios novos”, justificando essas condições, “pelo facto de não terem sido intervencionados nos últimos anos”. Para além disso, refere que “é possível, conservando e reabilitando, com uma forma diferente de construção, na periferia das cidades, ter magnifícos espaços recuperados, no centro das cidades”, acrescentando que “há é que reabilitar e recuperar esses mesmos edifícios”.
Projectos
Na sequência deste encontro, para além de uma sensibilização de todos os intervenientes para este problema, Vasco Peixoto de Freitas considera que “seria desejável criar grupos de estudo sobre a patologia em Portugal, cujo objectivo seria criar um conjunto de empresas e/ou instituições, fundadoras desses grupos de estudo para, durante dois anos, criar-se na Internet, um espaço livre onde se pudessem divulgar os principais defeitos da construção”.
Por outro lado e, no que diz respeito à patologia, espera-se que seja possível criar um grupo de trabalho alargado, englobando as universidades, as empresas de construção, as ordens profissionais, os laboratórios, as empresas de materiais de construção, entre outros, e que criasse uma documentação técnica, sólida, aceite por todos os técnicos intervenientes na construção e que pudesse servir de base à elaboração de cadernos de encargos exigenciais. Quanto à reabilitação, a grande mensagem que foi transmitida é do ponto de vista metodológico. Segundo Vasco Peixoto de Freitas, “as empresas de gestão de condomínios devem perceber que, reabilitar, não é pedir um preço para curar um problema; há que fazer um estudo, um diagnóstico o mais técnico possível, por forma a, depois, encontrar uma solução de reparação”.
04 abril 2003
Este texto vai ser publicado na edição do próximo dia 13 de Abril da Revista Rostos.
Expocosmética – 8º Salão Internacional de Cosmética
Sucesso garantido
Entre shows, exposições e debates, o Salão Internacional de Cosmética juntou, no fim de semana de 29 a 31 de Março, profissionais e público que, mais do que visitar o espaço, se começam a interessar por todos estes temas ligados à beleza e à cosmética.
Obtendo o melhor resultado de sempre, quer no que diz respeito a expositores, como também a visitas, o 8º Salão Internacional de Cosmética consagrou Portugal do sector da beleza e da cosmética.
O êxito conquistado em 2003 confere a este evento, único do país, o estatuto de evento de referência do sector no contexto ibérico, tanto mais que o número de visitantes superou as expectativas da organização (mais de 30 mil visitas), “o que significa o reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo destas últimas oito edições”. Quem o afirma é Fernando Seixas, director da feira.
Instalada durante três dias na Exponor, no Porto, importantes empresas, não apenas portuguesas, como também estrangeiras, fizeram a divulgação dos seus produtos e realizaram contactos e negócios. Simultaneamente, “nos dois palcos que foram instalados para o efeito, decorreram várias passagens, shows de moda e de cabelos, apresentação de colecções e debates”, refere Fernando Seixas.
Também no âmbito da Expocosmética, decorreu o II Congresso Internacional de Naturopatia, promovido pelo Centro de Medicina Natural e que definiu as características de diferentes medicinas não convencionais. Um dado curioso reflecte-se no facto de, pela primeira vez, ter havido, neste espaço, um pavilhão dedicado às tatuagens, piercings e bodypainting, com demonstrações permanentes de como se pode fazer uma tatuagem e/ou um piercing.
Worhshops e demonstrações completaram o plano de actividades do certame, “que regressa em 2004 com o que de melhor se faz no sector e no país”, conclui o director desta feira.
11 março 2003
"O futuro passa pelos professores"
Que o ensino em Portugal já conheceu dias melhores, não é novidade. Que as expectativas por que essas melhoras ocorram, também não. Se, estando nós do lado de fora, assim o sentimos, quem lida diariamente com as nossas crianças e os nossos jovens, mais o sente.
Há razões para sentirmos alguma insatisfação: Portugal é, com efeito, um dos países da Europa que mais baixos níveis de sucesso apresenta ao nível escolar. Também é sabido que o estado em que as nossas escolas se encontram, não é dos melhores. Aliado a tudo isso, paira o abandono da escolaridade mínima obrigatória.
A própria imagem social dos professores tem vindo a mudar, mas há traços que permanecem na identidade associada à profissão de professor. Desde sempre houve e há, apesar de algumas flutuações, a consideração pelo professor. O professor tem sido considerado um dos expoentes da nossa sociedade. E é genericamente respeitado por todos; todos nós mantemos hoje ainda a recordação de algum professor em particular que nos marcou de uma forma muito especial. E é frequente que um dos nossos professores seja escolhido para lhe contarmos um segredo, uma confidência, antes mesmo de o contarmos a alguém da nossa família; e ele está lá para ouvir, para aconselhar.
Numa altura em que o stress tomou conta da vida de muitas pessoas, as exigências que se levantam à escola e aos professores aumentaram; ele é, por assim dizer, a extensão da família.
Mais do que ensinar, cabe ao professor dos tempos modernos, educar. A falta de tempo é motivo para muitas justificações e, na maioria das vezes, os pais não têm tempo para estar com os filhos. Esta ausência significa que deixa de haver tempo para os educar, para os ajudar; simplesmente, não há tempo para estar com eles.
João Dias da Silva é o presidente do Sindicato dos Professores da Zona Norte. Considera que, "apesar de termos assistido à democratização do acesso ao ensino em Portugal, não se assistiu à democratização do sucesso educativo. Verificamos que as taxas de analfabetismo, embora largamente reduzidas, se mantêm a níveis inaceitáveis". A verdade é que "a distância a que nos encontrávamos dos outros países europeus era grande e, apesar do esforço que foi feito, ainda não atingimos os níveis que desejamos".
Papel central
Enquanto educador, João Dias da Silva, também ele professor, é de opinião que "o professor desempenha um papel central no sistema educativo, uma vez que o futuro do país, passa pelos professores de hoje", acrescentando que "a nossa profissão tem a particularidade de, os efeitos daquilo que realizamos hoje, só se verificarem daqui a uns anos". Daí referir que, "à geração actual de professores, cabe a consciência de que, o futuro passa por nós professores que, dia a dia, lidamos com os alunos". Significa isto, nas palavras deste professor, que cabem aos professores responsabilidades diferentes: "os jovens têm que adquirir na escola, as ferramentas que lhes permitam enfrentar os desafios que vão encontrar no futuro e que, nós, neste momento, ainda desconhecemos". Por isso mesmo, João Dias da Silva confessa que "o futuro passa pelos professores".
Apesar de ter sido delegada às escolas uma responsabilidade muito grande no papel de educar os nossos jovens, João Dias da Silva alerta para o facto de que "os pais têm que continuar a ter um papel relevantíssimo na educação dos seus filhos", acrescentando que "mesmo que os pais cheguem cansados a casa, mesmo que o trabalho não lhes tenha corrido bem, eles têm o dever e a obrigação de estar com os seus filhos". Por outro lado, este professor considera que "mal vai a sociedade se os pais e as famílias se descartarem da sua responsabilidade e a quiserem transferir para as escolas". Daí que considere que "temos o dever de distinguir os campos de intervenção de cada um dos lados sabendo, no entanto, que é essencial que haja uma ponte permanente entre a escola e a família".
É certo que a sociedade tem assistido a uma transferência para a escola de múltiplas responsabilidades sociais. A escola que, antes, tinha uma dimensão instrutiva, ganhou hoje, muitas outras dimensões, exigindo-se mesmo à escola, outros tipos de formação, como seja, a formação rodoviária, a formação para a saúde, para o ambiente, entre muitas outras. A este respeito, João Dias da Silva considera que "é ao Estado e à sociedade que compete assumir também as suas responsabilidades, na área da educação das gerações futuras", atendendo ao facto de que "a escola nunca cumprirá o seu papel, se todos os outros se demitirem das suas responsabilidades e a transferirem para a escola".
Dificuldades
Nesta sociedade em completa mutação, muitos são os problemas e as dificuldades com que alguns professores se debatem. Existem casos conhecidos de indisciplina, desobediência e desordens nas salas de aulas. Para além destes problemas, João Dias da Silva afirma que "sendo a escola o espelho da sociedade, a diminuição do respeito pela autoridade não se verifica só nas escolas". Com efeito, quando a tradição já não é o que era, João Dias da Silva lembra que "os polícias, os advogados ou os médicos, por exemplo, não são tão respeitados". Por conseguinte, "não se pode querer que a escola seja o lugar da autoridade quando a sociedade se demite, mesmo ao lado da escola, de assumir essa autoridade". Com isto, João Dias da Silva não quer dizer que os professores também não tenham que se preocupar com a sua adaptação aos novos problemas e às novas realidades que vão surgindo. Uma dessas mudanças, tem a ver com a adaptação às novas tecnologias. João Dias da Silva questiona mesmo o facto de "numa sala de aula não ser chocante que o único que não sabe mexer num computador, seja o professor", acrescentando que "hoje, uma criança com 6 ou 7 anos já sabe fazer uma pesquisa na Internet ou enviar um e-mail". Daí que defenda que, "os professores têm que ter uma formação constante de actualização às novas realidades e em relação às mudanças sociais que têm vindo a ocorrer".
Por tudo isto, João Dias da Silva lembra que, "ser professor, hoje, não é uma profissão de risco; é, antes, uma profissão com muitos riscos".
Outra dificuldade, tem a ver com o facto da diversidade de origens culturais que o jovem transporta para a escola, dos hábitos de comportamento que adquire nos ambientes sociais em que vive. A esse respeito, João Dias da Silva considera que "já não temos uma população escolar de alunos que quase se limite aos que têm origem em extractos mais favorecidos e para as quais a formação inicial de professores os preparou" e, por isso mesmo, "o professor tem que ser capaz de, perante este confronto cultural, se adaptar a todos eles". Para além disso, João Dias da Silva volta a lembrar que "não cabe à escola e aos professores minimizar essas rupturas de risco". Daí que, no que respeita às queixas que são apresentadas pelos professores, os assuntos ligados à indisciplina, lideram qualquer tabela.
O professor do futuro
Para que os alunos se sintam bem numa sala de aula, o professor deve e/ou pode adoptar determinados tipos de comportamento, para além de que, o facto do aluno se ambientar com a turma, faz com que se sinta mais importante na sala. Por conseguinte, é ao professor que cabe zelar pelo bem estar na sala de aula, ao mesmo tempo que pode "criar hábitos e fazer com que o aluno possa querer saber mais sobre determinados assuntos".
Para além disso, sendo o professor um "pilar indispensável na educação dos jovens", João Dias da Silva confessa que "o professor será, acima de tudo, o referencial pela forma de estar que o jovem irá adoptar na sua vida".
Daí que o professor que se preocupa com o futuro é alguém que "domina outras tecnologias, para além de ter que construir a sua relação com os alunos, tendo em conta as alterações tecnológicas que estão a ocorrer". Por outro lado, "a relação professor/aluno terá que continuar a existir de uma forma pessoal, nunca se tentando transformar essa relação em algo impessoal, feita através de máquinas". Caso contrário, João Dias da Silva alerta que "perderemos o sentido do humano nas nossas vidas se não se preservar este aspecto pessoal que existe e que continuará a existir na vida dos professores e dos alunos".
Por outro lado, independentemente do que ocorrer, João Dias da Silva confessa que um professor, seja agora, seja no futuro, "deverá ser sempre sincero, leal e, acima de tudo, um bom profissional".
Entrevista publicada hoje no jornal O Primeiro de Janeiro, no âmbito de um trabalho chamado "O Professor como Referência".
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21 fevereiro 2003
Congregar para reflectir; organizar para agir
A língua portuguesa constitui o meio de comunicação privilegiado para a expressão de uma vasta comunidade de povos e de países – a CPLP – que vêm partilhando um longo trajecto histórico comum. Neste sentido, foram organizadas, no passado dia 24, as I Jornadas de Homenagem à língua portuguesa, como um tributo à mãe língua de todos nós.
A língua portuguesa configura-se como uma verdadeira pátria de pátrias, onde todas as suas gentes, sem prejuízo das respectivas línguas autóctones, crioulos e falares regionais e locais, se podem afirmar pluralmente e em plena liberdade, na riqueza diversa e multímoda das respectivas culturas, quer no campo da criação poético-literária, quer no campo científico-tecnológico, quer ainda no exercício das dimensões pragmáticas do quotidiano da vida. Daí que, são os linguístas, professores e, sobretudo os escritores, que têm uma grande responsabilidade perante os seus povos. Eles devem dar um contributo para o desenvolvimento das línguas nacionais, empreendendo um trabalho de escrita, para o que deverá contribuir, por exemplo, a língua portuguesa.
No entanto, face ao crescente e inevitável fenómeno da mundialização e/ou globalização (certamente com as suas potencialidades ainda embrionárias, mas também e, sobretudo, com os seus já bem diagnosticados e preocupantes riscos) importa, cada vez mais, tomar consciência de quanto representa e significa a língua portuguesa, no seio da Comunidades de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e no concerto geral das nações.
Assim sendo, entendeu a direcção do Instituto Piaget, dada a sua presença real e efectiva, não só no Portugal da interioridade e das periferias, mas também nos países africanos da CPLP, levar a cabo, através do seu Centro de Investigação em Língua Portuguesa, de Viseu, estas jornadas de homenagem à língua portuguesa. Os principais objectivos que se pretendiam com este projecto, eram o de contribuir para a presença, difusão e consolidação da língua portuguesa no interior da CPLP e no mundo, através do seu conhecimento e do seu estudo e, de uma actuação estratégica concertada para a defesa e afirmação do seu lugar na comunidade das línguas. Paralelamente a isso, pretendia-se, ainda, inaugurar uma reflexão conjunta que conduzisse ao planeamento e realização de um grande congresso bienal da CPLP, dedicado à lusofonia nas suas múltiplas vertentes, incidências e implicações.
Dividido em 4 painéis, o primeiro, coordenado por Vítor Aguiar e Silva, professor na Universidade do Minho, tinha por tema base, o projecto planetário da CPLP e o papel da língua portuguesa na realização desse projecto. O segundo painel, cujo tema central foi a comunicação social na defesa, cultivo e promoção da língua portuguesa, foi coordenado por Adriano Duarte Rodrigues, da Universidade Nova de Lisboa e, debateu questões ligadas à preocupação com as práticas linguísticas que possam ser assumidas como "padrão de referência", no respeito pela gramática, usos escritos e orais da língua, assim como a divulgação de iniciativas relevantes relacionadas com a defesa e promoção da língua.
No período da tarde, seguiram-se mais dois painéis. O primeiro, dedicado à(s) política(s) da língua, no quadro da CPLP, onde se discutiram as atribuições e iniciativas específicas dos órgãos próprios da CPLP, das instituições públicas e não públicas. Para além disso, ainda se debateram assuntos ligados ao fomento da leitura e da escrita e, a articulação do papel das universidades e instituições de ensino superior da CPLP, designadamente na investigação e na formação. Coordenado por Vítor Aguiar e Silva, da Universidade do Minho e por Castanheira Neves, da Universidade de Coimbra, houve ainda tempo para a apresentação e lançamento do livro "Tributo à Madre Língua", da autoria de Fernando Paulo Baptista, professor e coordenador do Centro de Investigação em Língua Portuguesa e do Departamento de Altos Estudos e Formação Avançada do Instituto Piaget de Viseu (ver entrevista nas páginas 8 e 9 ). O último painel foi dedicado à Geminação Inter-autárquica na CPLP, onde se questionou o papel das autarquias no aprofundamento dos laços históricos entre as comunidades lusófonas locais.
Sessão solene
A sessão solene inaugural contou, entre outros, com a presença de Fernando Paulo Baptista, António Oliveira Cruz (presidente do Instituto Piaget), Embaixador João Augusto de Medicis (secretário executivo da CPLP), José Moreira Amaral (em representação de Fernando Ruas, presidente da Câmara Municipal de Viseu e da Associação Nacional de Municípios Portugueses) e, Henrique Almeida (em representação do Governo Civil de Viseu). Logo a abrir a sessão, na Aula Magna do Piaget, repleta de um público interessado, Fernando Paulo Baptista fez uma alusão à língua portuguesa, como sendo "uma língua englobante e planetária, a língua da terra, dos mares e dos céus". Considerando que "tudo o que eu fizer até ao fim da minha vida, não pagará a profunda dívida que devo à minha língua materna", Fernando Paulo Baptista alertou para "a necessidade de que é a língua que nos faz", quando a assumimos, quando a falamos e até mesmo quando a escrevemos. Por outro lado, António Oliveira Cruz defendeu que "nem sempre a nossa língua e a nossa cultura são bem defendidas pelos portugueses, não só pelos que estão em Portugal, como também pelos que estão espalhados por esse mundo fora". A grande aposta para contrariar estas tendências, tem que ser feita, relembra, "ao nível das nossas instituições de ensino".
João Augusto de Medicis, abordando o papel da CPLP na língua e no mundo, considerou que "apesar das dificuldades, temos que defender a nossa língua no mundo". Para além disso, lembra que, "seja o português de Portugal, seja o português do Brasil, é a nossa língua que nos une, mais do que tudo". O secretário executivo da CPLP, com a "consciência das dificuldades" que este organismo vive, afirmou que "esta língua, para 220 milhões de pessoas é, não só, um instrumento de convívio, de trabalho e de riqueza, mas também de cooperação e reflexão entre os povos".
Falar português
É de todos bem conhecido, que o que mais está no coração dos portugueses espalhados pelo mundo, é a defesa da sua língua e da sua cultura. No entanto, os atropelos à gramática e à nossa língua atingiram uma evidência caricata e são sintomáticos e representativos do estado geral de todo o sistema. Daí que, muitos defendam a urgência na elaboração de um conceito e de um programa orgânico consistente e consensual, congregado numa instituição única dependente do Governo. Nesta instituição, teriam de ser aferidos e bem coordenados, os interesses, actualmente desarticulados dos ministérios, parceiros envolvidos, associações portuguesas, iniciativas bilaterais, coordenação de acção interdependente no âmbito de serviços de ensino e de assistência social, universidades estrangeiras, academias, (tempos livres e intercâmbios vários). Na elaboração do programa seria, não só necessária a colaboração da administração, dos partidos e dos sindicatos como também de peritos independentes radicados na migração, atendendo ao cruzamento e interligação de interesses. Por outro lado, muitos são os que defendem a criação de uma instituição independente de serviços, com competências definidas e, responsável por toda a política de fomento da língua e cultura no estrangeiro. Aliás, esta seria a resposta lógica aos interesses de Portugal. A par disso, precisa-se de uma cura radical para que haja uma correspondência entre o esforço que Portugal faz, e os respectivos resultados no terreno, sendo necessário reparar o desajustamento vigente entre instituições, assim como os dispositivos existentes bastante desajustados.
Uma das principais instituições que Portugal possui para a promoção da língua e cultura portuguesas no exterior, é o Instituto Camões, criado em 1992. Ele é, nos termos da respectiva Lei Orgânica, a pessoa colectiva de direito público, dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, que, sob a superintendência do Ministro dos Negócios Estrangeiros, assegura a orientação, coordenação e execução da política cultural externa de Portugal, nomeadamente da difusão da língua portuguesa, em coordenação com outras instâncias competentes do Estado, em especial os Ministérios da Educação e da Cultura.
Mas, mais do que se falar português, por todo o mundo, todos nós devemos começar a falar bem português.
Notícia publicada no jornal O Primeiro de Janeiro
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Fernando Negrão, presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, confessa...
..."Assusta-me a ignorância"
Tomou posse no dia 5 de Dezembro e iniciou, na passada quinta-feira, 13, uma visita aos centros de apoio a toxicodependentes do Norte do país, constatando "que existem algumas deficiências", quer ligadas às condições de trabalho, quer às próprias instalações.
Estima-se que haja, em Portugal, cerca de 100 mil toxicodependentes, sendo que, desses, apenas 30 mil estão em tratamento. Apesar de considerar estes números avassaladores, Fernando Negrão, presidente do IDT, Instituto da Droga e da Toxicodependência, considera que, "para diminuirmos estes números, é necessário envolver todas as partes", ou seja, "juntar as autarquias, os hospitais, os governos civis e as associações, no sentido de conjugar esforços e experiências", assim como "contarmos com o apoio uns dos outros para podermos trabalhar em melhores condições". Por parte dos técnicos que estão a trabalhar no terreno, Fernando Negrão sabe que existe um grande empenho por parte de todos, bem como uma enorme vontade em fazer mais e melhor. Para além disso, esta visita serviu, também, para, não só "conhecer os cantos à casa", como ainda para "quando o problema aparecer, eu o conseguir visualizar".
Não pretendendo, contudo, uniformizar procedimentos, o actual presidente do IDT esclarece que, "pretendemos melhorar os serviços que possam estar ligeiramente mais atrasados, conjugando métodos no sentido do tratamento". Do que já viu e ficou a conhecer, Fernando Negrão salienta que o mais importante, a curto prazo, é "haver uma efectiva ligação entre todas as áreas da prevenção e todos os agentes da comunidade", ou seja, é necessário explicar às pessoas que o problema da toxicodependência existe, da mesma forma que existem, no nosso país, inúmeros toxicodependentes que precisam de ajuda e de tratamento. Como nos conta, "muitos desses toxicodependentes são nossos vizinhos, filhos dos nossos amigos ou mesmo, familiares e que precisam do nosso apoio", acrescentando que "todos nós temos que nos envolver nesta luta, seja através da prevenção primária ou através do tratamento".
Acabar com o preconceito
Não obstante o facto de conhecer a realidade que o rodeia, assim como todo o trabalho que o espera, Fernando Negrão confessa: "Assusta-me o preconceito e a ignorância das pessoas". A título de exemplo, o presidente do IDT refere que, "ainda hoje estive com um toxicodependente que tem a mesma idade que eu; a única diferença é que ele é toxicodependente e eu não". Daí que seja importante, salienta, "que esta mensagem passe lá para fora, de maneira a que se atenue a ignorância e o preconceito". Uma das formas de combate passa, obrigatoriamente pela família e pelas escolas, tanto mais que, "é na família e nas escolas que estão as referências e as regras de conduta da sociedade". Por conseguinte, é nestas instituições que deve começar a prevenção, por forma a, "se não acabarmos com as toxicodependências, pelo menos, trabalhamos no sentido de minimizarmos os danos", conclui.
Quem é...
Fernando Mimoso Negrão, nasceu a 29 de Novembro de 1955, em Angola.
Frequentou o Liceu de Setúbal e o Colégio Maristas em Carcavelos.
Licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa e cumpriu o serviço militar obrigatório, de dois anos, na Força Aérea Portuguesa.
Posteriormente, realizou o estágio de advocacia e frequentou cursos de três anos no Centro de Estudos Judiciários para Juiz.
Exerceu o cargo de Juiz nos tribunais de Albufeira, Velas (S. Jorge, Açores), Ferreira do Alentejo, Alenquer, Boa-Hora, Setúbal e Barreiro.
É membro do Conselho Superior de Magis-tratura e foi director-geral da Polícia Judiciária.
Encabeçou a lista pelo PSD, no Algarve, como independente, sendo eleito deputado à Assembleia da República.
Actualmente, é presidente do conselho de administração do IDT.
Eu digo que...
..."O problema da toxicodependência é um assunto complexo e que afecta toda a sociedade portuguesa"
..."Tem de continuar a ser ministrada [Metadona] porque há situações em que é inevitável, mas deverá haver procedimentos normalizados a nível nacional"
..."É necessário fazer-se um levantamento da forma como a aplicação desse fármaco [Metadona] está a ser feita, pois não se sabe se os procedimentos no Norte são iguais aos do Sul"
..."A informação não entra nas escolas portuguesas por preconceito das próprias direcções; não querem falar nisso, porque temem que se diga que há droga nos estabelecimentos"
..."É preciso fazer uma campanha intensiva nas escolas porque, agora, o que nos está a preocupar é o aumento do consumo de drogas sintéticas como o «ecstasy»"
..."Vivemos de costas uns para os outros"
..."É preciso mudar as mentalidades e a caminhar juntos em parcerias para tentar ultrapassar os problemas da droga"
..."O fenómeno da toxicodependência no Porto é preocupante, tal como em todas as grandes cidades"
..."A Câmara do Porto é pioneira neste tipo de iniciativa [Projecto «Porto Feliz»] e agora é preciso sensibilizar outros concelhos para ter atitudes semelhantes"
..."Começam a aparecer novos fenómenos que devem começar a ser estudados"
...[Pretende-se] "uma estrutura capaz de garantir e imprimir coordenação e eficácia no combate à droga"
..."Assusta-me o preconceito e a ignorância das pessoas"
...[Tem que]"haver uma efectiva ligação entre todas as áreas da prevenção e todos os agentes da comunidade"
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A deputada Joana Amaral Dias, põe o dedo na ferida e afirma que deve haver uma...
Separação de mercados
Quando ainda pouco se falava em temas como a política de redução de riscos, HIV e Sida, em 1993, foi criado, em Coimbra, um projecto piloto, que contava com a participação de entidades estatais, nomeadamente a Comissão Nacional de Luta contra a Sida e que pretendia implementar uma série de medidas, experimentadas noutros países europeus.
Aquando do início deste projecto, o principal objectivo era a prevenção do HIV. Na eventualidade de ser bem sucedido, ao fim de um ano de existência, este projecto seria alargado a todas as capitais de Distrito do país. Em linhas gerais, este projecto consistia em se criarem estruturas de fácil acesso, que estivessem localizadas numa área de fácil acesso, assim como a criação das primeiras equipas de rua em Portugal. Paralelamente a isso, seria implementada a realização do teste do HIV, anónimo e gratuito.
Ao fim de um ano de implementação, o projecto apresentou inúmeros resultados positivos, tendo-se concluído que tinha sido uma experiência bem sucedida. Contudo, da parte do Governo, não houve intenção, nem vontade política, em se continuar esse projecto. Dessa forma, 10 anos depois do arranque deste projecto, ainda não existem, nas capitais de Distrito, locais onde se possam efectuar, de uma forma anónima e confidencial, testes que detectem o vírus do HIV.
Perante esta inactividade por parte do poder central, alguns dos técnicos que estavam ligados a este projecto desde o seu início, decidiram ser esta a melhor altura para criarem uma ONG, uma Organização Não-Governamental e que, sem estar na sombra da política, dos políticos e do Serviço Nacional de Saúde, pudesse levar por diante os seus próprios programas. Assim nasceu a Associação Becos com Saída.
Joana Amaral Dias, na altura, voluntária deste projecto e, encontrando-se a estudar Psicologia, foi uma das fundadoras desta associação. Actualmente, é a presidente da Becos, que tem como objectivo principal, a prevenção do HIV e da Sida. O seu trabalho é dirigido, acima de tudo, para uma população muito específica, realizando um trabalho de prevenção primária, nas escolas e junto dos adolescentes. Paralelamente a isso, desenvolvem um exaustivo trabalho junto de uma população mais restrita e que tem mais necessidades: prostitutas, grupos de reclusos, toxicodependentes. Para além disso, apercebendo-se de uma lacuna que não estava satisfeita por parte do poder central, foi dada especial atenção a uma outra área: o apoio domiciliário, junto de seropositivos.
Balanço
Com o notável crescimento da associação, foi possível alargar a sua área de intervenção e, hoje, para além da cidade dos estudantes, a Becos marca a sua presença em Figueira da Foz, Leiria, Castelo Branco e Covilhã. A principal dificuldade que sentem, tem a ver com falta de verbas, colmatadas muitas das vezes, com o apoio voluntário de alguns psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, juristas, contabilistas, entre muitos outros anónimos.
Joana Amaral Dias, apesar de todas estas dificuldades refere-nos que "ao nível do acompanhamento dos utentes, a nossa actuação tem sido muito positiva e o balanço que eu faço da nossa actividade, não pode ser diferente", acrescentando que, "do ponto de vista pessoal, tem sido uma experiência muito gratificante". Por outro lado, ao nível dos apoios que têm recebido e, ao nível do voluntariado, afirma que "é uma situação muito complicada, tanto mais que, em Portugal não há uma tradição, por parte da sociedade civil, em ajudar o próximo".
A agravar esta dificuldade está o próprio trabalho desenvolvido uma vez que "é um trabalho pesado, que exige alguns cuidados e, como não lidamos, nem com crianças, nem com idosos, ainda se verifica um certo constrangimento por parte dos portugueses em geral". Nesse sentido, a presidente da associação defende uma mudança radical nas políticas sociais levadas a cabo pelos diversos governos, "que mudam, quando muda a cor política, o que não ajuda nada". Por outro lado, alerta que se devem mudar as mentalidades dos portugueses, "trabalho esse que ainda vai demorar muitos anos".
Estando presente em cinco cidades portuguesas e, sendo elas tão diferentes entre si, a Becos com Saída tenta levar por diante um trabalho idêntico, adaptando os seus programas a essas mesmas cidades. No entanto, sendo Coimbra uma cidade jovem, detecta-se um determinado tipo de problemas, ligados ao facto de "ser complicado passar a mensagem". Pelo contrário, em Covilhã e Castelo Branco, dada a sua interioridade, "ainda se verifica algum conservadorismo". Na Figueira da Foz, "cidade costeira, verifica-se algum tráfico e apresenta uma população flutuante", tal como Coimbra, enquanto que, Leiria, cidade que vive do comércio e da indústria, "tem-se debatido com gravíssimos problemas sociais apresentando, hoje, a maior taxa de seropositividade do país". É, no entanto, nesta última cidade que Joana Amaral Dias confessa "sermos mais bem recebidos, quer ao nível dos apoios que nos concederam, quer à facilidade com que trabalhamos".
Prevenir
É ao nível da prevenção primária que incide o principal trabalho desta associação e, numa altura em que, cada vez mais, existem campanhas de informação, um pouco por todo o lado, Joana Amaral Dias é de opinião que "as campanhas de prevenção devem continuar a ser feitas". Contudo, alerta para o facto de se efectuarem campanhas dignas desse nome, salientando que "muitas dessas campanhas que têm saído cá para fora, são muito moralistas e contraproducentes". Nesse sentido, considera que sejam elaboradas e/ou criadas campanhas que "informem e esclareçam o público alvo que querem atingir". Não basta, por vezes, dizer "não te drogues"; é necessário informar as pessoas "acerca da composição dessas mesmas drogas, quais os seus benefícios, se os houver e, quais os seus malefícios", bem como os riscos que incorrem se os consumirem em demasia. É, depois, na cultura do consumo, que Joana Amaral Dias afirma que "muitas das substâncias são conhecidas porque, desconhecendo as pessoas o seu aspecto físico, começam a consumir, até por brincadeira ou curiosidade e, quando se apercebem, estão viciados".
Considerando, dessa forma "que não existam campanhas que sejam paternalistas ou não-morais", a presidente da Becos com Saída é de opinião que "devemos esclarecer e informar as pessoas dos reais perigos que as rodeiam; se elas, depois, insistirem no seu consumo, pelo menos, alguém, teve a coragem de as avisar", sendo posteriormente responsável pelo que lhe possa acontecer no futuro.
Separação de mercados
É ao nível do narcotráfico que a presidente desta associação diz "haver muito para fazer". Nesse sentido, considera que a melhor forma de combater o tráfico em Portugal, é ao nível da separação de mercados, considerando, contudo, que "não se prende apenas com a escolha". Da mesma forma, essa escolha não deve colidir com os direitos e interesses dos outros. É o que acontece, por exemplo, com o álcool, ao afirmar que "se isso foi possível fazer relativamente ao álcool ou com outras substâncias, eu defendo, também, que é possível fazer-se o mesmo, em relação a outras substâncias", uma vez que a responsabilidade de consumir ou não, recai sobre a própria pessoa.
Dessa forma, Joana Amaral Dias considera que "a promiscuidade de mercados existentes favorece apenas os narcotraficantes que, mais não fazem do que manipular os mercados". A título de exemplo, esta psicóloga refere que "um traficante que hoje vende a um miúdo, alguns gramas de haxixe, amanhã está-lhe a vender heroína e, depois, cocaína".
Sabendo, todavia, que "a distinção entre drogas leves e drogas duras é muito complexa", Joana Amaral Dias refere que "o facto de se fazer essa distinção, favorece e/ou protege as drogas legais, porque existem no nosso país, índices elevadíssimos de consumo de álcool e de tabaco e ninguém fala deles" porque, "escondendo-se na capa da legalidade, muitas vezes são camuflados e relegados para segundo plano", acrescenta.
Daí que, tendo a oportunidade de ocupar o cargo de Deputada pela bancada parlamentar do Bloco de Esquerda, Joana Amaral Dias tenha preparado um Projecto-Lei que defenda o comércio passivo da Cannabis. Segundo esse Projecto-Lei, que baixou à comissão, muito recentemente, entre outras particularidades, defende que a Cannabis não possa ser vendida a menores de idade, não tenha qualquer publicidade associada e, seja vendida em lugares controlados, onde seja feito um controlo de qualidade. Em relação ao álcool e ao tabaco, o que acontece é que eles são vendidos livremente e em qualquer lugar, fazendo-se mesmo publicidade para que as pessoas os comprem.
Em suma, o que Joana Amaral Dias defende é que, segundo ela, "qualquer substância psico-activa, deveria ser sujeita ao comércio passivo, ou seja, que não obedeça às lógicas do mercado, com informação responsável e sem moralismos". Dessa forma, parte da responsabilidade do consumo das drogas no nosso país, é transferida para o consumidor.
Continuar a trabalhar
Ao nível da Associação Becos com Saída, Joana Amaral Dias pretende consolidar os pólos existentes, nomeadamente "o da Covilhã e da Figueira da Foz, que são os mais recentes", bem como "continuar a trabalhar, como temos vindo a fazer até aqui". Por outro lado, refere-nos que "temos alguns projectos para a Região Autónoma dos Açores, nomeadamente em S. Miguel". Os motivos que levam a associação a criar um pólo nas ilhas, tem a ver com o facto de "eles terem problemas muito específicos e não existir lá uma organização que zele pelos interesses dessas pessoas". Para além disso, um outro projecto passa pelo alargamento da "nossa rede domiciliária de apoio a seropositivos".
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Associação Sol Nascente
Porque é preciso acreditar
Era dia de festa e estavam todos reunidos à volta da mesa. Era hora de almoço e aquele dia era especial porque o Queiroz terminava o seu processo terapêutico, dentro da comunidade. Finalmente, tinha chegado aquele dia, o dia em que, livre das dependências, o Queiroz ia deixar a associação que o recebeu nos últimos doze meses.
No fim daquele almoço, cada um disse o que lhe ia na alma, em jeito de despedida. Para o Queiroz, mais tarde, se recordar. Alguém relembrou que "boa sorte é coisa que não se diz, porque a sorte de cada um, é feita à nossa medida", ou seja, não devemos esperar que a sorte nos venha bater à porta; antes pelo contrário, devemos procura-la e fazer dela a nossa grande aliada.
Luís Miguel e Maria José, um dia, cruzaram-se com essa inimiga que, hoje, ambos combatem. Depois de terem passado por algumas instituições, decidiram o rumo das suas vidas procurando ajudar quem, como eles, outrora, também precisou de ajuda. A eles se juntou um grupo de pessoas com preocupações sobre o problema da droga e, assim, foi criada a Sol Nascente. Fazem parte da direcção e, estando ligados a uma associação, fá-los sentir bem. Luís Miguel defende que as pessoas que passaram pela experiência da droga e se libertaram, são uma mais valia na equipa técnica e na discussão das políticas da droga a nível das instânicas competentes.
A equipa técnica está constituída de acordo com a lei e, porque cada vez mais existem dependências de outras drogas, a Sol Nascente está atenta a esse fenómeno que, geralmente, também está associado ao álcool e, também aqui, neste centro é possível a sua recuperação.
Tendo por princípio, a abstinência, quem passa aqueles portões, deixa todas as drogas lá fora porque, ali dentro, não pode entrar droga de qualquer espécie. Lá dentro, existe toda uma equipa pronta a receber quem precisa de ajuda e, principalmente, quem quer ser ajudado. Maria Parcília, presidente da direcção diz que a comunidade terapêutica era mista. Hoje apenas existem rapazes a fazer os tratamentos. O principal motivo que levou a direcção a tomar tal atitude, prendia-se com o facto de se evitar romances ali dentro. Hoje, continua a ser mista "e nada nos impede de receber raparigas". Confessa, ainda que "quem sabe, um dia, não voltamos a ter aqui uma associação mista".
Programa terapêutico
O programa terapêutico praticado pela Associação Sol Nascente baseia-se no modelo bio-psico-social. Para além disso, baseiam-se na filosofia Minnesota de narcóticos e alcoólicos anónimos. No que diz respeito às terapias efectuadas, a direcção tem procurado adoptar novas terapias que, associadas às já existentes, contribuem sempre e, cada vez mais, por uma maior eficácia dos resultados. Essencialmente, as terapias que já existem tratam-se de terapias de grupo e/ou individuais, exercícios de prevenção da recaída, exercícios de confrontos e de exploração da raiva, entre muitos outros.
Para além destas, introduziu-se a terapia pela arte, pela bioenergia e os jogos psicodramáticos, bem como, o teatro, através do projecto Roda Viva, como forma de terapia e de reinserção. O desporto continua a ser uma componente terapêutica. Vários são os projectos em desenvolvimento. Aos adictos que buscam na Sol Nascente o seu equilíbrio físico e psicológico, é-lhes assegurada, após o seu processo terapêutico, a reinserção na sociedade, tanto mais que já foi criada por esta associação, uma empresa de inserção com 16 postos de trabalho, destinados a grupos desfavorecidos. Por outro lado, foi já iniciada a "contratação" de mulheres, com mais de 40 anos e, também, adictos em recuperação. Este projecto tem sido muito útil na reinserção de adictos.
Os jovens que terminam o seu processo terapêutico saem da comunidade, ou inseridos na empresa, ou inseridos em outro posto de trabalho. "É nossa grande preocpuação que a reinserção corra da melhor forma e, o projecto da empresa é apoiado pelo centro de emprego de Setúbal". Mantém-se, também, a reinserção através do Programa Vida Emprego. A Câmara de Palmela, com a sua grande sensibilidade para o fenómeno da droga, apoia pontualmente a associação. O projecto da empresa de inserção e um outro projecto apoiado pelo Saúde XXI, merecerão, da parte da direcção, um desenvolvimento numa outra entrevista.
Foram iniciados, ainda, contacos com outras câmaras e juntas de freguesia para se estabelecerem protocolos.
Uma nova terapia que, a curto prazo, a direcção desejaria de colocar em prática é a terapia do grito. Para o efeito, existe já um projecto de remodelação e ampliação das instalações por forma a se poder utilizar esta terapia, já que ela envolve a criação de uma sala, isolada no que diz respeito à acústica e à sonoridade. O principal objectivo desta terapia é fazer com que o utente solte todas as emoções que tem dentro de si. No entanto, foram já realizadas algumas experiências que, nas palavras da presidente da Sol Nascente "correram muito bem e foram bem aceites".
Por vezes, sempre que se justifique, Sandra Morgado, uma das psicólogas da Sol Nascente refere que há alterações no quotidiano do grupo. Sempre que um dos membros faz anos ou, sempre que há uma saída, o dia é ligeiramente diferente, por forma a haver uma confraternização entre todos. Contudo, Sandra Morgado, adverte que "nessas alturas, vêm ao de cima muitas emoções".
Para além destas terapias, o recurso a grupos de ajuda mútua, nomeadamente, os alcoólicos anónimos e/ou os narcóticos anónimos, é também uma constante. Maria José, também ela responsável pela Sol Nascente, afirma que "frequentamos, durante três vezes por semana, essas salas de grupo, porque achamos que é uma mais valia para o tratamento dos nossos jovens". Para além disso, "acreditamos que o leque de amizades que se fazem nessas salas, são uma mais valia, tanto mais que quando eles aqui chegam, não têm quaisquer amigos". Maria José afirma-nos isso mesmo: "nas salas, encontramos pessoas que partilham os mesmos problemas, os mesmos medos e idênticos receios", acrescentando que "eles gostam de partilhar essas emoções e os seus sentimentos com outras pessoas, porque isso fá-los sentirem-se bem consigo próprios", uma vez que, "para além de darem, também recebem e, isso, parecendo que não, é muito importante para todos eles". Associado a isso, está o facto de que, "tudo o que é dito ali dentro, não passa cá para fora; é quase como se morresse lá dentro".
A filosofia do programa adoptado pela Sol Nascente é de um ano, mais seis meses de reinserção. Durante o programa são transpostas várias fases, que começa com a adaptação, quer à comunidade, quer às terapias e à equipa técnica, quer aos colegas que lá residem. A par disso, existe um conjunto de regras e de normas que têm de ser seguidas e cumpridas por todos, sem qualquer excepção. Progressivamente, vão-se ultrapassando as fases e vai-se "subindo" de degrau; um de cada vez. À medida que cada fase vai passando, as responsabilidades vão aumentando e, chegados ao último degrau, a reinserção é feita fora da comunidade.
Alguns casos são especiais, porque o utente demonstra capacidade para tal e, aí, é convidado a ficar na associação, a colaborar com os técnicos e a ajudar o próximo.
O Queiroz teve essa sorte e vai ficar perto dos seus colegas. Vai ajuda-los a ultrapassar tudo aquilo por que ele já passou. Mesmo aqueles que, hoje, estão reinseridos na sociedade, não esquecem a associação e, continuamente, voltam para matar saudades ou telefonam a contar novidades. Sandra Morgado, conta isso mesmo. Ela confessa que "temos um utente que, sempre que acontece qualquer coisa de bom na sua vida, me liga logo a contar as novidades". De igual forma, "sempre que estão em baixo, ansiosos ou deprimidos, sabem que podem contar connosco, a qualquer hora, em qualquer dia da semana".
Os medos, receios e fantasmas são uma coisa que os irá acompanhar durante muito tempo. A uns, mais do que outros, mas do que temem é de uma recaída. Sandra Morgado afirma que "eles saem daqui muito afectados, principalmente no que toca à sexualidade e, o medo de falharem emocionalmente ou a nível profissional, ou até mesmo de não serem aceites pela sociedade, por vezes, faz com que recaiam".
Avó Maria
Uma das pessoas mais queridas nesta associação é, sem dúvida, a avó Maria e, sempre que um dos seus "netos", a abandona, as lágrimas insistem em rolar-lhe pela face. Ela sabe que é para o bem deles, mas vê-los sair dali, depois de os ter acompanhado, nas actividades, durante tanto tempo, ainda lhe custa um pouco. Os setenta anos já lá vão e não têm conta as caras que por ali viu passar. Uns ficaram até ao fim, outros desistiram; uns fugiram e nunca mais voltaram, outros acabaram por voltar e cumprir o tratamento até ao fim. Para a nossa reportagem, ela sorriu, de braço dado com o seu mais recente "neto" que vai sair da comunidade. Mesmo sabendo que ele apenas vai passar uma semana a casa com os pais e que vai voltar, para ali trabalhar, do bolso do seu avental ela tira um lenço para enxugar as suas lágrimas.
É nesse sentido que Maria Parcília afirma que, "enquanto houver jovens como o Queiroz a precisarem da nossa ajuda, nós vamos cá estar para os continuar a receber de braços abertos". Por isso mesmo, toda a direcção e toda a equipa técnica da Sol Nascente, quer sempre mais; quer sempre continuar a ajudar quem precisa e quem os procura. Por isso mesmo, os projectos são mais que muitos e, a esse respeito, Luís Miguel e Maria Parcília confessam que "numa outra oportunidade, nós diremos que projectos são esses", acrescentando que "é preciso acreditar que estes jovens possam ser reinseridos na sociedade, livres de qualquer tipo de droga".
A Associação Sol Nascente procura apostar nos afectos, no calor humano, na qualidade e na reinserção, fase por excelência do percurso de um adicto que decida procurar ajuda.
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Câmara Municipal de Bragança
O importante é prevenir
A cidade de Bragança, ao contrário do que acontece com o resto do país, tem vindo a crescer de forma significativa, crescimento esse que se notou mais (20,1 por cento) na última década. Contando com uma população jovem elevada, uma vez que cerca de 40 por cento da população que vive na cidade, se encontra a estudar, muitas das actividades que se desenrolam em Bragança, são feitas a pensar no presente e no futuro da juventude.
Sendo Bragança a maior cidade, a Norte do país, os principais problemas que a afectam, assim como na maioria das cidades e vilas do interior de Portugal, passam pelo envelhecimento da população, pela desertificação do território e pela falta de oportunidades económicas. À frente dos destinos da cidade de Bragança, desde 1997, Jorge Nunes, presidente da Câmara Municipal, refere-nos que "esse é o nosso principal desafio", acrescentando que "embora os problemas que nos aproximam das vilas que nos circundam, sejam idênticos, eles têm outras características, uma vez que, enquanto a nossa cidade continua a crescer, outros municípios estão a estagnar". Para além disso, em toda esta região, cada vez mais, o sector da agricultura está numa situação de depressão, com a consequente perda de rendimentos. Como consequência directa, hoje, muitos produtos que provêm da terra, ainda têm o mesmo valor comercial, se se comparar com o passado. Porém, os factores de custos da produção, aumentaram. Para o presidente desta autarquia, "significa que estamos num processo de empobrecimento", o que não é favorável para a região, mesmo sendo este um território e um espaço de oportunidade, com significativas potencialidades em diversas áreas. Um dos motivos que bloqueiam o processo de desenvolvimento, tem a ver com "os estrangulamentos importantes efectuados, associados à ausência de investimentos públicos e de políticas capazes de gerar e criar coesão no território e à falta de adequadas acessibilidades", segundo nos confessa Jorge Nunes.
De acordo com um inquérito levado a cabo, em 2001, pelo já extinto Instituto Português da Droga e da Toxicodependência, o concelho de Bragança apresenta índices de consumo de álcool, tabaco e drogas, superiores à média nacional. A esse respeito, Jorge Nunes, considera que "esse estudo demonstra que estamos na presença de dois países, dentro de um só país", isto é, "enquanto que, no litoral, esses consumos estão a estabilizar ou, até mesmo, a decrescer, no interior, verifica-se precisamente o contrário, ou seja, esse consumo mantém-se em progressão, uma vez que a falta de oportunidades que é dada aos jovens, é por demais evidente". Com efeito, o insucesso escolar e o consequente abandono do ensino, associado à inexistência de alternativas que não seja o trabalho no campo ou na construção civil, para não falar nos valores da família que estão a deixar de ser tidos em conta, levam a que, cada vez em maior número, os jovens enveredem por "caminhos difíceis, embora, numa primeira fase, se apresentem como caminhos fáceis". Daí que, para o presidente da Câmara Municipal, "as coisas estão interligadas e, não podemos dissociar esta tendência do aumento do consumo de álcool e de droga, da falta de oportunidade para os jovens".
A autarquia, sendo uma das maiores entidades empregadoras da região, por forma a contrariar estes números, "pode desenvolver algumas acções ou actividades, tendentes a minimizar essas mesmas situações". No entanto, como nos esclarece, "deverão ser os próprios cidadãos em geral e, a família em particular, a agir por forma a dar a volta a essa situação". Por outro lado, ao nível do poder central, "o Governo tem que fazer correcções ao nível das políticas globais que tem no país, terminando com as assimetrias que existem entre o interior e o litoral, concedendo a oportunidade que aos jovens do interior tem vindo a ser retirada desde os finais da década de 40".
Daí que seja importante o apoio dado à estruturação das próprias instituições, ao nível físico, técnico e da estabilidade de funcionamento. Por tudo isso, Jorge Nunes afirma-nos que "para nós, é mais importante termos as instituições como parceiras e ajudá-las a trabalhar tendo em conta as boas práticas destas, do que sermos nós a criar outras equipas e colocar-mo-nos em sobreposição". Trabalhando dessa forma, o presidente da autarquia garante que "conseguimos obter melhores resultados, tanto mais que os técnicos que trabalham nessas instituições, estão mais vocacionados para trabalhar no terreno do que nós".
Plano Municipal de Prevenção Primária
Defendendo que "o concelho está bem estruturado", Jorge Nunes salienta o facto de, o concelho de Bragança ter uma capacidade de resposta que outros concelhos limítrofes não têm. Para além disso, garante-nos, "torna a gestão da autarquia mais fácil", pois todo o trabalho de investigação e de actuação in loco, é feito pelas próprias instituições, depois de detectados e analisados esses mesmos problemas. Outro tipo de ajudas da autarquia, passa pelo reforço do desenvolvimento das instituições, quer pela cedência de terrenos, ou pela ajuda à construção de infraestruturas, como também na ajuda ao funcionamento dessas mesmas instituições. Daí que, a autarquia tenha entregue a uma dessas instituições, a gestão do Plano Municipal de Prevenção Primária, salvaguardando algum apoio técnico e financeiro. Dessa forma, Jorge Nunes garante que "as nossas instituições levam a cabo um trabalho de prevenção no terreno, com mais agilidade, mais conhecimento e mais disponibilidade do que o que seria feito pelos funcionários municipais".
Uma das carências do concelho de Bragança, passa pela inexistência de uma comunidade terapêutica, dado que a sua área de influência é muito grande, tanto mais que extravasa limites concelhios e até distritais. Com efeito, neste momento, para além das instituições de solidariedade existentes no concelho de Bragança, apenas existe um Centro de Apoio a Toxicodependentes. Por conseguinte, "a instalação de uma unidade terapêutica na cidade de Bragança é um dos nossos desejos, até porque, da mesma forma que pacientes portugueses se vão tratar a Espanha, também aqui, poderíamos tratar pacientes espanhóis", dada a extensa fronteira e a proximidade de importantes núcleos habitacionais, para além de dar apoio a toda a área de Trás-os-Montes e Alto Douro. Por outro lado, Jorge Nunes também pretende, com este projecto, "evitar que os jovens toxicodependentes andem a deambular pela cidade, até porque, chega sempre a altura em que o CAT de Bragança e outras instituições não conseguem resolver esses problemas, quando eles estão numa fase muito adiantada". Também as famílias têm um importante papel a desempenhar, até porque, cansadas dos problemas do jovem toxicodependente, acabam por rejeitá-lo e abandoná-lo à sua sorte.
Um outro problema, prende-se com a própria geografia, uma vez que Bragança está a escassos quilómetros com a fronteira espanhola. A dificultar este problema, está o facto de que, por via terrestre e, uma vez que as fronteiras estão abertas, entram no nosso país, não só a droga, mas também redes organizadas que passam a actuar no Norte do país. O combate, segundo o presidente desta autarquia, "deveria ser feito em duas frentes", sendo que a prevenção tem um importantíssimo papel. Nesse sentido, "a prevenção tem que ser desenvolvida junto das escolas, dos bares e das discotecas, ou seja, nos espaços que são frequentados pelos jovens, até porque são eles que estão em risco". Para além disso, "terá que haver abertura suficiente por parte das próprias pessoas que estão encarregues dessa mesma prevenção", conclui.
Lua Nova
No âmbito da prevenção primária e, numa segunda fase de um projecto direccionado para as escolas, o programa Lua Nova vai de encontro, não só às escolas do concelho de Bragança e seus alunos, como também aos professores, no sentido de os preparar e celebrar acções conjuntas, no espaço frequentados por esses mesmos alunos e/ou outros jovens. Paralelamente a isso, são desenvolvidas outras acções junto das famílias, dando-lhes a conhecer os reais problemas que os possam afectar e/ou atingir. Este programa, em parceria com outras instituições, partiu da Câmara Municipal que, para além das instituições de solidariedade nacional, agrega as escolas deste concelho. A sua linha de orientação, fundamentalmente, como nos garante o presidente da autarquia, "é a prevenção do consumo de drogas nas escolas e nos espaços recreativos".
O combate ao tráfico é outra das vertentes que Jorge Nunes diz ser "inquestionável". Nesse sentido, é apologista de "uma estratégia política de articulação de todos os meios, junto das polícias e dos tribunais, por forma a se desenvolver um extensivo trabalho que combata este problema".
Por tudo isto, são muitos os projectos da autarquia neste sentido. No entanto, como nos esclarece Jorge Nunes, "temos que retirar conclusões do trabalho que temos vindo a desenvolver e, só depois, podemos questionar a sua continuidade". Para além disso, "iremos continuar a fazer o melhor possível, sempre com a intenção de preservar e proteger os nossos jovens", mesmo com os escassos recursos de que a autarquia dispõe.