21 fevereiro 2003

Este texto foi publicado, hoje, no jornal O Primeiro de Janeiro
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Fernando Negrão, presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, confessa...
..."Assusta-me a ignorância"

Tomou posse no dia 5 de Dezembro e iniciou, na passada quinta-feira, 13, uma visita aos centros de apoio a toxicodependentes do Norte do país, constatando "que existem algumas deficiências", quer ligadas às condições de trabalho, quer às próprias instalações.

Estima-se que haja, em Portugal, cerca de 100 mil toxicodependentes, sendo que, desses, apenas 30 mil estão em tratamento. Apesar de considerar estes números avassaladores, Fernando Negrão, presidente do IDT, Instituto da Droga e da Toxicodependência, considera que, "para diminuirmos estes números, é necessário envolver todas as partes", ou seja, "juntar as autarquias, os hospitais, os governos civis e as associações, no sentido de conjugar esforços e experiências", assim como "contarmos com o apoio uns dos outros para podermos trabalhar em melhores condições". Por parte dos técnicos que estão a trabalhar no terreno, Fernando Negrão sabe que existe um grande empenho por parte de todos, bem como uma enorme vontade em fazer mais e melhor. Para além disso, esta visita serviu, também, para, não só "conhecer os cantos à casa", como ainda para "quando o problema aparecer, eu o conseguir visualizar".

Não pretendendo, contudo, uniformizar procedimentos, o actual presidente do IDT esclarece que, "pretendemos melhorar os serviços que possam estar ligeiramente mais atrasados, conjugando métodos no sentido do tratamento". Do que já viu e ficou a conhecer, Fernando Negrão salienta que o mais importante, a curto prazo, é "haver uma efectiva ligação entre todas as áreas da prevenção e todos os agentes da comunidade", ou seja, é necessário explicar às pessoas que o problema da toxicodependência existe, da mesma forma que existem, no nosso país, inúmeros toxicodependentes que precisam de ajuda e de tratamento. Como nos conta, "muitos desses toxicodependentes são nossos vizinhos, filhos dos nossos amigos ou mesmo, familiares e que precisam do nosso apoio", acrescentando que "todos nós temos que nos envolver nesta luta, seja através da prevenção primária ou através do tratamento".

Acabar com o preconceito

Não obstante o facto de conhecer a realidade que o rodeia, assim como todo o trabalho que o espera, Fernando Negrão confessa: "Assusta-me o preconceito e a ignorância das pessoas". A título de exemplo, o presidente do IDT refere que, "ainda hoje estive com um toxicodependente que tem a mesma idade que eu; a única diferença é que ele é toxicodependente e eu não". Daí que seja importante, salienta, "que esta mensagem passe lá para fora, de maneira a que se atenue a ignorância e o preconceito". Uma das formas de combate passa, obrigatoriamente pela família e pelas escolas, tanto mais que, "é na família e nas escolas que estão as referências e as regras de conduta da sociedade". Por conseguinte, é nestas instituições que deve começar a prevenção, por forma a, "se não acabarmos com as toxicodependências, pelo menos, trabalhamos no sentido de minimizarmos os danos", conclui.

Quem é...

Fernando Mimoso Negrão, nasceu a 29 de Novembro de 1955, em Angola.
Frequentou o Liceu de Setúbal e o Colégio Maristas em Carcavelos.
Licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa e cumpriu o serviço militar obrigatório, de dois anos, na Força Aérea Portuguesa.
Posteriormente, realizou o estágio de advocacia e frequentou cursos de três anos no Centro de Estudos Judiciários para Juiz.
Exerceu o cargo de Juiz nos tribunais de Albufeira, Velas (S. Jorge, Açores), Ferreira do Alentejo, Alenquer, Boa-Hora, Setúbal e Barreiro.
É membro do Conselho Superior de Magis-tratura e foi director-geral da Polícia Judiciária.
Encabeçou a lista pelo PSD, no Algarve, como independente, sendo eleito deputado à Assembleia da República.
Actualmente, é presidente do conselho de administração do IDT.


Eu digo que...

..."O problema da toxicodependência é um assunto complexo e que afecta toda a sociedade portuguesa"

..."Tem de continuar a ser ministrada [Metadona] porque há situações em que é inevitável, mas deverá haver procedimentos normalizados a nível nacional"

..."É necessário fazer-se um levantamento da forma como a aplicação desse fármaco [Metadona] está a ser feita, pois não se sabe se os procedimentos no Norte são iguais aos do Sul"

..."A informação não entra nas escolas portuguesas por preconceito das próprias direcções; não querem falar nisso, porque temem que se diga que há droga nos estabelecimentos"

..."É preciso fazer uma campanha intensiva nas escolas porque, agora, o que nos está a preocupar é o aumento do consumo de drogas sintéticas como o «ecstasy»"

..."Vivemos de costas uns para os outros"

..."É preciso mudar as mentalidades e a caminhar juntos em parcerias para tentar ultrapassar os problemas da droga"

..."O fenómeno da toxicodependência no Porto é preocupante, tal como em todas as grandes cidades"

..."A Câmara do Porto é pioneira neste tipo de iniciativa [Projecto «Porto Feliz»] e agora é preciso sensibilizar outros concelhos para ter atitudes semelhantes"

..."Começam a aparecer novos fenómenos que devem começar a ser estudados"

...[Pretende-se] "uma estrutura capaz de garantir e imprimir coordenação e eficácia no combate à droga"

..."Assusta-me o preconceito e a ignorância das pessoas"

...[Tem que]"haver uma efectiva ligação entre todas as áreas da prevenção e todos os agentes da comunidade"

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