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31 maio 2003

Vai ser publicado este sábado um especial dedicado ao concelho de Arganil, no jornal O Norte Desportivo. De entre os textos que foram feitos por mim, destaco este, da freguesia de Benfeita que, depois do Piódão, é a mais bonita do concelho. Espero que gostem do texto...

Abençoada pela natureza


“Tenho por graça, essa graça feia. Fonte das moscas, é demais grotesca. Porém, ao povo desta minha aldeia, eu pago a graça, dando-lhes água fresca. E, ao visitante que até mim chegar, sacio-lhe a sede, fico satisfeita e dou-lhe ainda, para admirar a minha aldeia, a linda Benfeita”.
Fernando Ferreira, 1985


Conta-se que há muito tempo atrás, o nome desta povoação seria Valverde, termo atribuído devido ao aspecto concedido pela baixa de castanheiros que envolvia o aglomerado populacional. A «estória» continua, embora com algumas variantes, que a mudança da designação se deve a uns senhores, donos de um castelo das proximidades, que quando avistaram uma capela (a de Santa Rita, para uns; a da Senhora da Assunção, para outros), ficaram deslumbrados e exclamaram: “Quem bem feita!”. Esta expressão foi ficando e, as casas da localidade e as que aí se erguiam, passaram a ser conhecidas por Benfeita. Todavia, na realidade, aquele termo deverá relacionar-se com um vocábulo oriundo do verbo benefacere ou outro equivalente, que foi sofrendo transformações. Daí resultou uma gradual adulteração, até que chegou à palavra Benfeita, como hoje nos surge.
É do alto da fonte das moscas que se obtém a melhor visão da freguesia. E é, com a água que ali corre que nos refrescamos e nos refugiamos do calor abrasador.
António Quaresma Martinho, aos 70 anos de idade, está no seu segundo mandato como presidente da junta de freguesia. Depois de uma vida passada na África do Sul, decidiu voltar e trabalhar em prol da sua terra. Ao fundo da fonte das moscas, à sombra de um chorão que, alguém, ali plantou já lá vão uns bons anos, conta-nos que Benfeita é terra muito antiga. Com efeito, os primeiros documentos conhecidos, datam de 1195 e tratam da compra desta terra por Pedro Salvador que, mais tarde, a doou aos bispos de Coimbra, que lhe deram foral a 17 de Maio de 1300. É terra conhecida pela indústria artesanal das colheres de pau que transformam pequenos pedaços de madeira num utensílio útil para as práticas culinárias. A Benfeita é também uma terra de grande beleza paisagística. Acolhe dentro de si dois locais dos mais belos deste concelho de Arganil: a Mata da Margaraça e a Fraga da Pena, de que falamos mais à frente.
Vasco Campo, a 21 de Março de 1989 escreveu: “Benfeita dos olmos verdes e ribeiros cristalinos. Tem bençãos de amor e paz, no doce tanger dos sinos”, referindo-se à Torre da Paz. Construída logo após o fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945, baptizada de Torre Salazar, a torre que coroa a aldeia, passou a chamar-se Torre da Paz após o 25 de Abril de 1974. António Quaresma Martinho diz-nos que, todos os anos, no dia 7 de Maio, pelas 14 horas, o terminus desta guerra, a torre está programada para dar 1620 badaladas, tantas quantas os dias que a guerra durou. Diz quem já ouviu que é um espectáculo auditivo e que dura aproximadamente duas horas. Será no âmbito do Programa das Aldeias do Xisto, que a aldeia de Benfeita irá ser recuperada. Para começar, a Torre da Paz já se encontra completamente remodelada. Depois, seguir-se-á a pavimentação de todas as ruas da aldeia e as infraestruturas para águas pluviais. As alterações também se farão sentir na electricidade e nos telefones, na medida em que todos os fios serão subterrâneos. De referir que, este projecto, previsto para dois anos, teve o seu arranque no ano passado e já se encontra parcialmente adjudicado.


Uma paisagem única


Aqui se separam as beiras, num alinhamento serrano, da Estrela até à Lousã. À dita fria, alta e nevosa, não sobem com frequência os de cá do fundo, para a conhecer. Recebem novas pelo vento que lhes ajoelha o milho e pela água das enxurradas bruscas de Outono.
A serra do Açor escolhe os mais fortes, nas temperaturas dos seus cumes que acolhem o ar húmido na sua longa viagem sem barreiras, desde o oceano, elevando o teor de humidade atmosférica a criando um misterioso cenário de névoas. Os seus vales são enormes. Profundos. As encostas, despidas nos seus cabeços, num alinhamento interminável. A água que cai na serra do Açor, separa-se temporariamente, para ser conduzida pelo Alva ou pelo Ceira, rumo ao reencontro no Mondego. No Ceira, viaja num vale apertado, cultivado aqui e ali em pequenas e estreitas insuas; no Alva, junta-se-lhe a água das ribeiras da Mata – na Várzea de Coja e de Folques –, vale de Arganil, para um caminho pontuado de salgueiros, amieiros e freixos, barbos, enguias e trutas, moinhos, lagares e levadas, que levam água à terra sequiosa, incapaz de a armazenar em quantidades suficientes para que as culturas se desenvolvam.
Cada milímetro de terra de cultivo é uma conquista do esforço, do engenho e saber das gentes. Suportadas por muros de xisto, os fragmentos das encostas da serra vão dando, geração atrás de geração, couves, feijão, milho em folhas compartimentadas pela vinha ou pelo olival. É a água que faz mover todo este sistema, nas levadas engenhosamente construídas nos poços, tanques, noras, açudes, picotas; enfim, tudo o que a disponibilize, com a deferência que merece algo gerido colectivamente, partilhado no estio, com base em regras gravadas na memória. O xisto talhado, que após o primeiro Inverno, tanto parece ter um ano como um século, ajudou à integração dos aglomerados urbanos na paisagem envolvente mas, com o avançar do progresso, a abordagem estética ao assunto foi-se alterando, as influências exteriores foram sendo mais efectivas, assistindo-se hoje a uma amálgama cromática, formal e textural em grande parte das aldeias da serra do Açor.
A Benfeita encerra, em si, a magia de um posto avançado, de uma fronteira. Seja qual for a rota escolhida para lá chegar, continuar em frente é entrar numa realidade progressivamente diferente. Pormenorizando, se para trás tivermos deixado Arganil, o Vale do Alva, Secarias, a várzea de Coja, o Pisão e a Dreia, entramos na Benfeita pelo lado Norte, pela zona mais baixa, acompanhando a ribeira da Mata, pela sua margem direita, nunca subindo acima dos 300 metros de altitude. Foi o percurso que escolhemos e é essencialmente marcado pelos campos de cultivo associados às linhas de água e com um incontornável ponto de referência na paisagem, que é o espaço urbano da vila de Coja. Por outro lado, se descobrirmos Benfeita por Sudeste, quer dizer que para trás ficou um percurso em que os valores paisagísticos são fundamentalmente naturais, traduzidos pelo património natural em si e pelas relações panorâmicas inerentes às áreas serranas. Por este lado, desperta-nos os sentidos, a frescura, o movimento e o som da água na Fraga da Pena, o cheiro das giestas e urzes na serra, a cor, a diversidade, a tranquilidade da Mata da Margaraça e o sabor do medronho e do mel no Piodão. Foi este o percurso que fizemos, ao abandonarmos Benfeita.
Por tudo isto e mais alguma coisa e, sofrendo um efeito de orla que a valoriza, Benfeita está, assim, no sítio ideal. Vai buscar urbanidade a um lado e, ruralidade e naturalidade, a outro. O todo resultante é um equilibrado quadro, alvo nas construções que, suave e tranquilamente, se envolve no verde e nos dois cursos de água que se fundem no seu seio, servindo-se do milho, do xisto e da oliveira.
É a meados do mês de Agosto que tem lugar a festa de Nossa Senhora da Assunção, que será talvez uma das mais concorridas e, apesar das festas não terem os mesmos preparativos de antigamente, ainda se mantem a mesma animação. Um dos jogos típicos destas alturas e desta freguesia, é o galo, em que o animal é atado para não voar e, os concorrentes, com os olhos vendados, o tentam matar. No final, todos fazem um petisco. Tradicionalmente, realiza-se, também, a subida a um tronco de eucalipto, que tem, no cimo, um bacalhau. Igualmente, fazem-se outras actividades, como corridas em sacos, de bicicleta e campeonatos de futebol.

30 maio 2003

Quem fala assim...


Texto de Diana Andringa:

... se no tempo do fascismo nos batíamos contra os 6 meses de prisão preventiva, devemos achar normal os anos de prisão preventiva hoje existentes?
... se no tempo do fascismo nos batíamos contra a tortura do sono e os interrogatórios nocturnos, devemos achar normal que alguém, mesmo suspeito de pedofilia, seja interrogado noite fora, e que o advogado assinale um intervalo entre as 2 e as 4 da manhã?

Ou seja: em nome de que são acusados de delito comum, não de delito político, devemos ser indiferentes aos excessos nos interrogatórios e nas prisões?
Ou seja: num Estado de Direito, deixam de fazer sentido garantias que antes considerávamos exigíveis?

Com o devido respeito pelos juízes, o exemplo de Itália não devia fazer tocar algures na nossa cabeça uma campaínha de alarme?

(Aos que são jornalistas deixo duas perguntas: é mesmo preciso, para dizer que alguém é acusado de pedofilia, pormenorizar que os actos sexuais foram anais e orais, ou é só porque a pornografia vende? E acham que a presunção de inocência sobrevive às peças -cheias de pormenores recolhidos não se sabe bem onde - apresentadas nos telejornais, relatando minuciosamente o que o presumível inocente terá feito?)

Não sou pedófila, não sou do PS, não sou embaixadora, não sou apresentadora de televisão, nem advogada, nem médica, nem trabalhei na Casa Pia.
Mas sou jornalista e sinto-me cheia de dúvidas a ver os noticiários (?) televisivos da área do crime, além de que defendo que nada do que ocorre na sociedade me é alheio, e nunca esqueci o poema do Brecht sobre as prisões pela Gestapo. E se aceito que acusados de delito comum - sendo eles traficantes de droga, violadores de meninos ou mesmo assassinos - sejam vítimas de interrogatórios nocturnos, de interrogatórios prolongados, de meses e anos de prisão preventiva, sinto diminuída a minha capacidade de defender os presos de Guantanamo ou os de Fidel.

E vocês, o que acham? Depois de vermos um advogado a saír, estoirado, do interrogatório nocturno do seu constituinte, devemos todos ficar calados, para não nos confundirem com pedófilos ou pensarem que somos do PS?

Saudações,

Diana Andringa

26 maio 2003

Como é que um homem formado em letras gere uma "empresa"? O resultado está numa entrevista que fiz ao presidente do Instituto Piaget, António Oliveira e Cruz e que vai ser publicada na próxima quarta-feira, dia 28 no jornal O Primeiro de Janeiro.

“É preciso saber pensar...”


Quando, hoje em dia, se fala em recursos humanos de uma empresa, pensa-se logo em gestão, economia, rendimentos e como se pode aumentar a facturação de uma determinada empresa, tendo em conta o desenvolvimento e a evolução das novas tecnologias. Homem de letras, apaixonado pela filosofia e com livros editados de poesia, António Oliveira e Cruz tem outra opinião. Completamente diferente. Fomos ouvi-la...

Afirma que sempre foi um sonhador e, em pequeno, confessa que costumava falar com as pedras e com as árvores. Aliás, foi o contacto com a natureza “que me marcou para sempre”, adianta. Escreveu o seu primeiro poema, tinha 14 anos e, hoje, já publicou mais de 30 livros. A maioria deles, de poesia “porque a poesia é essencial; é o fundamento da sabedoria e da vida”.
Admitindo que “sempre fui um sonhador”, Oliveira e Cruz realizou o seu maior sonho quando, depois de um congresso de educação, que ocorreu em Lisboa, decorria o ano de 1978, surgia a ideia de se implementar o Instituto Piaget em Portugal. E, o que começou por ser uma entidade que ministrava acções de formação, tornou-se na maior instituição de ensino privado e cooperativo do nosso país. Hoje, é uma instituição única na Europa, com ramificações em várias regiões do país e em vários países africanos.
Na sua denominação social, o Instituto Piaget é uma cooperativa para o desenvolvimento humano integral e ecológico. A nossa primeira pergunta era inevitável: como é que um instituto superior, cuja finalidade última é a de formar pessoas, promove esse desenvolvimento entre as pessoas.
Oliveira e Cruz não hesitou e defendeu a ideia de que “tudo aquilo que é criado pelo Homem, e de que o Homem é criado, tem que ser considerado humano, mesmo quando as suas acções, sejam elas marcadas pela bondade em si mesmas, sejam elas perversas, atingem o extremo”. Por conseguinte, “tudo aquilo que o Homem produz, mesmo que tenha efeitos perversos, tem que ser considerado humano”. Defendendo que o bom ou o mau, somos nós que o definimos e não a natureza, Oliveira e Cruz é de opinião que “é o Homem que define o que é bom ou mau, em função de si próprio”, mesmo quando utiliza um deus como fundamento ou juiz de tal escolha ou tendência. Apesar de termos andado a construir a história numa grande diferenciação entre o Homem e os animais”, “estamos a chegar à conclusão que esse fosso não existe, uma vez que existe uma cultura de continuidade entre aquilo que o animal faz e aquilo que o homem cria”. E, essa mesma teoria aplica-se, mesmo quando o homem cria algo que nos causa prejuízo, como é o caso da bomba atómica. O homem criou essa arma e, no entanto, a sua perversidade pode levá-lo a destruir a sua própria espécie. “É uma espécie de Deus que, no fundo, se destrói a si mesmo”, acrescenta. Por outro lado, “o ser humano tremendamente racional é o mais tremendo dos predadores e dos destruidores”. Daí que seja necessário e indispensável assumir o Homem todo: o Sapiens-demens, como diz Edgar Morin.
Nesse sentido, o Instituto Piaget, segundo nos confessa, “tem este objectivo, o desenvolvimento humano e integral, porque nós somos o resultado de uma evolução, no qual não só evoluiu o nosso corpo como também a nossa inteligência e a nossa sociabilidade”. Para além disso, isso só se consegue, “mediante a aceitação de tudo aquilo que nós somos na realidade”.
Uma outra área importante do Piaget, é a sua divisão editorial, cujo projecto inicial foi criado para contribuir para a criatividade científica e cultural, assim como para uma maior difusão do saber. Segundo nos conta Oliveira e Cruz, “tem raízes profundas no projecto pedagógico, cultural, social e ecológico da instituição e assume-se, hoje, com um perfil próprio e um lugar de pleno direito no panorama editorial da língua portuguesa”. Neste momento, tendo já ultrapassado a edição de mais de mil títulos, “está actualmente em curso um projecto de promoção das nossas obras e da imagem da nossa editora, junto das principais universidades portuguesas e brasileiras, visando um maior e melhor conhecimento do nosso propósito cultural junto do nosso público alvo por excelência”. Acima de tudo, o que se pretende é gerar saber, porque o torna mais acessível e, em última análise, “estamos a investir num Portugal que se deseja de futuro, juntamente com todo o mundo de língua portuguesa”.

Educação fundamental

Reportando-se à forma como a temática dos recursos humanos é abordada no actual panorama do ensino superior em Portugal, Oliveira e Cruz considera que “tem que se partir sempre de alguns princípios importantes: um, que é essencial, é que a formação e a educação são um processo de evolução necessário à própria condição do ser humano”. Nesse sentido, “todos os seres vivos levam vários anos a conseguir a sua maturidade e a educação é um processo de maternagem que leva o seu tempo”. Daí que, “a educação é, fundamentalmente, estar atento à evolução própria de cada indivíduo na sua comunidade, de maneira a potenciar aquilo que, nas diferentes fases, a pessoa apresenta como exigências e como possibilidade”.
Um outro princípio essencial é que “a educação faz-se de baixo para cima e de dentro para fora, uma vez que a evolução humana se processa segundo um percurso bio-psico-social”. Um outro princípio é que a condição obrigatória do próprio ser humano é a partilha e/ou transferência de conhecimento. A esse respeito, Oliveira e Cruz considera que “conhecer é o acto de captar em função de si, no meio ambiente, coisas, seres ou objectos” construindo-se, nesse acto, ao mesmo tempo universal e único. E é isso que torna os seres humanos diferentes entre si, e diferentes na forma de partilhar e transmitir o seu conhecimento.
Daqui parte um outro enorme princípio e é de que ninguém tem mais ou melhor inteligência do que outro. Oliveira e Cruz é peremptório em afirmar que “face a um determinado assunto, o que se pode dizer é que, o que cada um conhece e a forma como esse conhecimento é interligado, é mais ou menos eficaz em função de um ou outro critério”. Partindo dessa base, será que se pode falar em ser-se mais ou menos inteligente? A resposta do presidente do Piaget é só uma: “não”. E, isto porque, “conhecimento é uma coisa; inteligência é outra”. O único elo de ligação entre conhecimento e inteligência é, para Oliveira e Cruz, “o pensamento, porque todos nós pensamos; cada um à sua medida, é certo, mas todos nós pensamos. E a medida de cada um é incomensurável”. Comparar inteligência é uma aberração social e uma tolice científica.

Filosofia e pensamento

É nesse sentido que o pensar conduz a nossa conversa até à filosofia. E, obrigatório, é falar do facto de a disciplina de filosofia ter sido retirada do plano curricular do 12º ano.
Sendo Oliveira e Cruz um fervoroso mas lúcido crítico dessa tomada de atitude por parte do actual ministro da educação, o presidente do Piaget refere que “a nossa cultura ocidental, no que ela tem de mais forte, é incompreensível se não tiver em conta duas dimensões fundamentais”, acrescentando que “são elas o resultado da sua profunda vivência histórica: a dimensão da maternagem humana através da língua (daí o chamar-se língua materna), e a dimensão do pensar.
O saber-pensar, o pensar enquanto dimensão estruturante humana, é incontornável em toda a formação. Daí que “uma pessoa que tenha chegado a adulto, sem ter reflectido sobre os problemas fundamentais da sua própria existência (que, no fundo, foi o que a filosofia fez), não fez nada”. Afinal, “o que foi que essa pessoa fez?”, interroga, considerando que “mesmo uma criança, de 4 ou de 5 anos, já tem que se confrontar com problemas filosóficos”. A título de exemplo, Oliveira e Cruz refere uma criança de 4 anos que, em tom de interpelação, disse à sua mãe: «a verdade e a mentira, são tudo mentira». E, quando a mãe lhe pergunta o porquê dessa afirmação, ela apenas responde «não estás a ver?». Nas palavras do presidente desta instituição, “a criança, pura e simplesmente, estava a pensar grande. Esta é uma daquelas afirmações que pode perdurar durante vários séculos e milénios, sem que ninguém perceba a sua justificação, mas que nos perturba mais profundamente que a interrogação da esfinge”.
É por isso que Oliveira e Cruz defende que “as crianças e os jovens têm que ter uma alimentação filosófica de base, que tem que ser trabalhada ao longo de toda a vida”. Por conseguinte, “eu tenho muita pena que o actual Governo tenha adoptado as atitudes que adoptou ao desvalorizar a importância da problemática filosófica no sistema educativo”.

Futuro da sociedade

Partindo do pressuposto que “o ser humano é o pilar da sociedade”, Oliveira e Cruz é de opinião que “para além da importância que reveste a sustentabilidade económica, é necessário ter em conta a sustentabilidade social e humana”, ou seja, “é urgente que a sociedade tenha uma estrutura suficiente para receber todos os seus novos elementos e para tratar condignamente quem está ou quem vai estar nessa mesma sociedade”.
Acima de tudo, Oliveira e Cruz defende que “o modelo de sociedade que eu idealizo é aquele que não rejeita ninguém e que integra toda a gente, com as suas diferenças; estas são necessárias e imprescindíveis a uma qualquer sociedade”. E é esta sustentabilidade social que uma empresa - “que saiba existir como uma estrutura complexa - tem que ter para poder concretizar-se como transformadora de produtos e informação numa rede empresarial altamente competitiva”.
Por outro lado, “tudo aquilo que nós fazemos, faz parte de uma construção pessoal e, se fazemos coisas que nos desfazem, estamos a desfazer-nos a nós próprios”. Nesse seguimento, vem a sustentabilidade humana e no facto de se pensar que “o homem não vive apenas anos, mas milénios e, se possível, viver o mais possível, face às condições que existam e, isso é que é o mais importante, pois é isso que nos dá a dimensão do longo prazo; da dimensão da humanidade, enquanto humanidade”. Por isso é que, “todo o homem concreto, ao mesmo tempo que é único, é também universal”.

Caixa:
“Na caminhada do aprender e do saber, a formação será sempre uma busca permanente de novos caminhos que conduzam ao desenvolvimento pessoal e colectivo. Por isso, construímos os Campus Académicos, espaços onde funcionam os institutos universitários e a escolas superiores de educação e de enfermagem Jean Piaget, em Vila Nova de Gaia, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Viseu, Almada, Santo André e as universidades Jean Piaget em Angola e Cabo Verde.
Fazemos hoje ensino de qualidade, porque é com qualidade que pensamos o teu futuro! Contamos contigo!”

António Oliveira e Cruz

23 maio 2003

Num especial Guia turístico de Gaia, a ser publicado no jornal O Primeiro de Janeiro, no próximo domingo, dia 25 de Maio, vai ser publicado o seguinte artigo relativo à inauguração do Cais de Gaia.

Uma esplanada...sobre o Douro


Renascido dos escombros de uma zona excessivamente degradada, onde existia o então denominado Parque de Exposições, o Cais de Gaia promete abalar a escassa noite portuense, confinada a meia dúzia de bares na Ribeira e às discotecas da zona industrial.

Decorreu na passada sexta-feira, a inauguração do Cais de Gaia, que contou com a presença de inúmeros convidados, empresários e individualidades do país. “Em homenagem ao rio Douro, não posso deixar de agradecer a todos aqueles que ajudaram a erguer a âncora deste navio para que este empreendimento pudesse navegar e chegar a bom porto”. Foi com estas palavras que João Gomes de Oliveira, presidente da Douro Cais iniciou o seu discurso de inauguração.
Numa iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e da APDL, encontra-se agora renascida toda a zona ribeirinha de Gaia. Neste espaço, composto por três pavilhões, serão distribuídos vários negócios de restauração, bares e comércio, pretendendo-se que constituam, por si só, um motivo de atracção. Para além disso, um dos grandes objectivos da Douro Cais, tal como adiantou João Gomes de Oliveira é “trazer de novo as pessoas à Ribeira de Gaia”. Paralelamente às áreas comerciais, existirá ainda uma praça acústica, cuja dinamização dos eventos ficará a cargo da rádio Nova Era. Para além disso, será neste espaço que terá lugar o Festival Internacional de Gaia, um evento de carácter anual e que se desenrolará até ao próximo mês de Outubro. A par de todos estes eventos, o presidente da Douro Cais é de opinião que “estou certo que este novo empreendimento constituirá um forte aliado do desenvolvimento turístico da área metropolitana do Porto e valorizará a fixação de turistas neste belo cenário que é o Douro”, acrescentando que, “a partir de agora, terão a oportunidade de desfrutar do sabor e dos aromas da Ribeira de Gaia, confortavelmente instalados nesta soberba e enorme esplanada sobre o Douro”.
Uma outra característica desta «nova marginal de Gaia», é que passará a dispor de mais lugares de estacionamento, com capacidade para receber mais de mil automóveis. A esse respeito e, conhecendo as actuais dificuldades para se estacionar no centro histórico da cidade, Luís Filipe Menezes anunciou já a construção de novos parques de estacionamento. Enquanto isso, está já garantida a circulação de um shuttle entre Vila Nova de Gaia e o Cais, por forma a que as pessoas possam deixar os carros nos parques de estacionamento limítrofes ou em casa e, deslocarem-se a este novo espaço, sem se preocuparem com o estacionamento. De referir que, a utilização deste novo meio de transporte, durante este ano, é gratuita.
Sendo o porto de Leixões a maior infraestrutura portuária do Norte de Portugal e, uma das mais importantes do país, Ricardo da Fonseca, presidente do conselho de administração da APDL fez questão em afirmar que “este espaço fala por si e, em breve entrará na lista de casos de sucesso de reconversão de áreas portuárias”. Mas, como o Douro não é só as suas margens, houve também a necessidade de se regularizar o funcionamento da actividade marítimo-turística e que se desenvolvia de uma forma quase anárquica. A esse respeito, Ricardo da Fonseca afirma que “a APDL tem hoje essa actividade regulamentada no interesse da salvaguarda da qualidade do turismo local, como também dos agentes económicos que a dinamizaram”. Aliás, as imagens mais registadas pelos turistas que visitam Gaia são, indiscutivelmente, “as dos barcos rabelos, fundeados em frente às caves com as suas velas desfraldadas”. Ricardo da Fonseca salientou mesmo que, “essa, é uma panorâmica que preservaremos a qualquer custo”. Daí que “temos um projecto que passa, não só, por aumentar a actividade turística através de passeios ao longo do Douro, como também na perspectiva de facilitar a travessia entre as duas margens”, concluiu.

19 maio 2003

Foi publicada na edição de hoje do O Primeiro de Janeiro, a seguinte entrevista com Maria Amélia Paiva, presidente da Comissão para a Igualdade e para os Direitos da Mulher.


A luta pela igualdade




Segundo a alínea h) do artigo 9º da Constituição da República Portuguesa, é tarefa fundamental do Estado, promover a igualdade entre homens e mulheres. E é, partindo desse pressuposto, que a CIDM tem por principal objectivo, conseguir a igualdade de direitos e de oportunidades. A propósito da assinatura de dois novos planos, fomos conversar com Maria Amélia Paiva, presidente da CIDM que nos falou das principais dificuldades e dos projectos para o futuro.

Instituído em Novembro de 1977, este organismo, tutelado pelo Ministro da presidência, comemorou recentemente os seus 25 anos de actividade. Os motivos que levaram ao seu aparecimento e, de igual forma, a que ainda hoje exista, fundamentalmente, prendem-se com o facto de, em pleno século XXI, haver a necessidade de se ter pôr termo a discriminações evidentes que colocaram as mulheres numa situação de manifesta desigualdade em relação aos homens. Essas desigualdades fazem-se sentir, não só, nos direitos cívicos e políticos, como também nos direitos económicos e culturais.

25 anos volvidos e um longo trabalho apresentado, quer do ponto de vista legal, como da sua consagração, muitas são as discriminações e desigualdades, quer no mercado de trabalho, quer na participação das mulheres na vida pública e política. Se se comparar com outros países da União Europeia, quando se fala em lugares de chefia e/ou decisão, as mulheres portuguesas continuam a ocupar os últimos lugares da tabela, no que diz respeito a áreas, como por exemplo, as económicas e financeiras. Interessante, é analisar outras áreas, ligadas à ciência e à tecnologia e, nas universidades portuguesas, o número de mulheres é cada vez mais significativo, não só de estudantes, como também de professoras. É nesse sentido que Maria Amélia Paiva admite que "já foram dados passos significativos", acrescentando que "existem outras áreas em que é necessário continuar a ter uma atenção especial e desenvolver medidas de acção positiva para que, a igualdade, para além da sua consagração na lei, possa ser uma realidade e possa, de facto, ser efectiva".

Igualdade vs violência

Actuando no terreno de variadíssimas formas, a CIDM tem desenvolvido inúmeras parcerias, por forma a levar a bom porto o seu extenso trabalho. Desde contactos/colaboração/parceria com centros de saúde, passando pelas escolas (secundárias e superiores), câmaras municipais, entre outros, a CIDM aguarda a aprovação em Conselho de Ministros, de dois planos nacionais: o Plano Nacional para a Igualdade e o Plano Nacional contra a Violência Doméstica. Trata-se de dois instrumentos fundamentais que vão permitir alargar e aprofundar esta rede de parcerias e a integração da perspectiva de género em todas as políticas e programas. Para além disso, vão ainda permitir actuar em áreas tão privilegiadas como seja a promoção da igualdade de oportunidades. Nesse sentido, no que diz respeito ao Plano Nacional para a Igualdade e, na linha do que está estabelecido, quer pelo programa do Governo, como também na Plataforma de Acção Pequim a que o nosso Governo, voluntariamente, se obrigou, o trabalho será desenvolvido em áreas como o trabalho e o emprego, a conciliação da vida familiar e profissional, a educação e a saúde, entre outras.

Dia Internacional da Mulher

A propósito do Dia Internacional da Mulher, comemorado a 8 de Março, questionámos Maria Amélia Paiva no sentido de sabermos se se justificava a sua comemoração. Com efeito, numa sociedade em que, homens e mulheres reclamam a igualdade de oportunidades e de direitos, muitas são as críticas que alegam que, se as mulheres «querem» igualdade de oportunidades, não se justifica ter um dia internacional dedicado a elas. A esse respeito, a presidente da CIDM refere que "de facto, as mulheres e os homens têm os seus direitos e deveres consagrados na lei; agora, isso é só na teoria, porque na prática, isso não acontece". E daí a "necessidade e a importância de haver a comemoração desse dia". Por outro lado, "se, em Portugal, a situação das mulheres é relativamente positiva, se se comparar com o que era há 30 anos atrás, no resto do mundo isso não acontece", salienta. Nesse sentido, esclarece que "há ainda um longo percurso a percorrer" e, referindo-se às medidas em concreto previstas no Plano Nacional para a Igualdade, Amélia Paiva afirma que "uma área que nos está a preocupar agora tem a ver com as mulheres imigrantes", uma vez que elas trazem dos seus países de origem os seus hábitos, os seus valores e as suas tradições. Não querendo ser contra esses hábitos, "além de que temos o maior respeito por eles, não podemos, contudo, aceitar que esses mesmos hábitos sejam contra os direitos e os deveres consagrados na nossa Constituição e nas leis portuguesas". A título de exemplo, refira-se a tradição de algumas comunidades que vedam o acesso das raparigas à escola ou que praticam a mutilação genital feminina. É nesse sentido que, em parceria com o Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas e o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a CIDM pretende encetar diálogos com vista a encontrar um conjunto de acções prioritárias e que estão contempladas no Plano Nacional para a Igualdade, com o objectivo de dar seguimento a algumas das conclusões obtidas no seminário realizado no passado mês de Janeiro.

Um outro protocolo, muito recentemente, foi assinado com a Fundação de Ciência e Tecnologia, no sentido de se promoverem estudos sobre as mulheres. Um dado curioso é que, neste momento, as mulheres, cada vez mais, emigram sozinhas, contrariando as tendências das últimas décadas em que era o homem o primeiro a deixar o seu país de origem. Neste momento, Maria Amélia Paiva afirma que "já conhecemos alguns casos em que foram as mulheres as primeiras a deixar o seu país e, mais tarde, os seus maridos, filhos ou mesmo outros parentes, juntaram-se a ela".

Numa altura em que, em Portugal, neste momento, já estão identificados cidadãos de cerca de 120 nacionalidades, um dado a ter em conta, prende-se com a adopção ou não da cultura e dos valores que existem nos países de acolhimento. A esse respeito, Maria Amélia Paiva é de opinião que "muitas dessas comunidades são muito fechadas e têm regras muito rígidas; por outro lado, noutras comunidades, o processo de integração é mais fácil e também depende das respectivas sociedades de acolhimento, ou seja, se a sociedade de acolhimento adoptar políticas de inclusão e de acolhimento, é mais fácil evitar este tipo de guetos, sejam eles de origem cultural, religiosa, ou qualquer outro". Para além disso, a presidente da CIDM alerta para o facto de que "o valor que é importante promover numa democracia, é o valor do conhecimento mútuo das várias culturas, para nos respeitarmos mutuamente", acrescentando que "para nos podermos integrar bem, precisamos de nos conhecer". Tudo isso, tendo em conta que "em Portugal, são as leis portuguesas que vigoram e são elas que têm que ser respeitadas".

Quotas femininas

A polémica questão da adopção de quotas é, para a presidente da CIDM, "uma das medidas possíveis, entre muitas outras". Mais do que isso, Maria Amélia Paiva defende que "é preciso promover e fomentar a participação das mulheres a todos os níveis da actividade pública, seja ela através do apoio a associações, seja através do apoio às mulheres, mediante a adopção de uma política de conciliação da vida familiar e profissional". Para além disso, Maria Amélia Paiva defende a "partilha das responsabilidades, nomeadamente parentais, uma vez que, só assim é que as mulheres podem, em paralelo com a actividade familiar, expandir a sua carreira profissional". A esse respeito, a presidente da CIDM refere o facto de que, muitas das mulheres deixam de poder dedicar-se a outras actividades, uma vez que têm todo o peso das tarefas domésticas. Como solução, defende a responsabilização, não só da mulher, mas do casal, nas tarefas domésticas. Mesmo assim e, partindo da ideia de que muitos dos casais já partilham essas mesmas tarefas, Maria Amélia Paiva refere que "é quase sempre à mulher que cabe o grosso das tarefas, como seja, tratar das roupas, fazer as compras para a casa, fazer o almoço e o jantar e, por conseguinte, o homem fica com os pequenos afazeres, com as tarefas mais simpáticas, como seja, cuidar dos filhos e levá-los a passear".

Uma outra questão que se pode associar a esta, tem a ver com o facto de se fazer opções. Maria Amélia Paiva relembra que, "quando a mulher é incumbida de um cargo superior, ela tem que fazer essa opção: ou a carreira; ou a família". Pelo contrário, "o homem não pensa nisso e nem sequer se coloca essa questão; ele aceita e pronto". Daí que, a presidente da CIDM considera que, "o equilíbrio só irá acontecer quando mulheres e homens forem educados para, ambos, fazerem cedências".

Futuro

Não pretendendo fazer qualquer tipo de futurismo relativamente ao Plano Nacional para a Igualdade e ao Plano Nacional contra a Violência Doméstica, Maria Amélia Paiva gostaria de, dentro de um ano, "poder avaliar positivamente algumas das medidas práticas que, no terreno, esperamos poder testar e, por conseguinte, afirmarmos que foram dados passos concretos na melhoria do seu direito efectivo à igualdade de oportunidades". De referir que, "esse direito é igual, quer para homens, como para muheres e, ambos serão cidadãos mais completos e mais plenos, se a igualdade for efectiva para uns e para outros", conclui.

08 maio 2003

Foi hoje publicado, num suplemento subordinado à toxicodependência, no jornal O Primeiro de Janeiro, o artigo que refiro no post do dia 15 de Abril cujo título é:

Legalização das drogas – Prós e Contras



04 maio 2003

Vai ser publicado na edição de 1 a 15 de Maio do Jornal 4 Esquinas, o seguinte texto:

O que eu penso sobre...




Futebol. Nunca gostei de futebol. Aliás, odeio futebol. Por mais que eu tente, não consigo perceber que fenómeno que arrasta multidões em volta de uma equipa de futebol. O "amor" e a "dedicação" que cada pessoa tem pelo seu clube, para mim, não quer dizer nada. Nada mesmo. Zero. Desculpem-me se ofendo alguém, mas é assim que eu penso.

Isto vem a propósito do facto do Futebol Clube do Porto ter ganho não sei o quê, nem com quem (sei que foi em Itália), com uma equipa qualquer (nem sei se foi italiana), a propósito de um campeonato (não sei se é este o termo que os entendidos na matéria utilizam) cuja final vai ocorrer em Sevilha (isso eu sei que é em Sevilha porque os meus colegas de trabalho querem alugar um autocarro e ir para lá, agora em Maio). Escusado será dizer que nem sequer fui auscultado para saber se queria ir, porque a minha resposta só podia ser não.
E isto vem a propósito do facto de, desconhecendo eu esse jogo, caí no erro de passar pela avenida dos Aliados, no Porto, nesse fatídico dia e, ainda por cima, de carro. Foi um tormento, um suplício, uma amargura, uma agonia ter conseguido atravessar aquela avenida, em direcção à ponte D. Luís, para passar para o lado de Vila Nova de Gaia.

O povo, qual êxtase, qual bebedeira, não deixava passar ninguém. Os cachecóis em volta do pescoço; os bonés, meio revirados nas cabeças suadas, as camisolas do clube todas amarrotadas; as garrafas de cerveja, já meio vazias nas mãos; e aqueles gritos? Só se ouvia: Porto; campeões; somos campeões; o Porto é o maior. Até uma senhora, cujos 60 já tinham acontecido há muitos anos, gritava: "semos campeões; semos os maiores". E olhem que eu adoro a cidade do Porto e concordo com aquela frase que diz que o Porto é uma Nação. A cidade do Porto; não os clubes da cidade. Mas, voltando ao principal. Primeiro que eu conseguisse atravessar aquela avenida, foi um dia de juízo. Apesar de levar os vidros do carro bem fechados e o som do rádio estar nas alturas, aquele barulho ensurdecedor, lá fora, não parava de me atazanar a cabeça. E depois os beijos. O povo beijava a bandeira do FCP com um fervor tal que me incomodava; o povo gritava o nome do Pinto da Costa e do Mourinho (esses, eu sei quem são). As buzinadelas dos outros carros, enfeitados de azul e branco... Uma coisa impressionante!!!

Mas a minha indiferença para o mundo do futebol e para as questões ligadas ao futebol, não se resume ao FCP. Estende-se a todos os outros clubes; a todos os outros "povo" que têm as mesmíssimas atitudes em relação aos seus clubes do coração. Não entendo; não consigo perceber esse fenómeno e, por mais que as pessoas tentem (acreditem que já tentaram), não me conseguem convencer a gostar, ainda que por um bocadinho, desse desporto chamado rei. Aliás, essa é outra das coisas que têm que me explicar, muito bem, porque raios é que o futebol é apelidado de desporto rei.

E depois há o Euro 2004. Acho muito bem que se façam esse tipo de coisas no nosso país. Atraem pessoas, visitantes e turistas. Mas, gastarem os milhões que estão a gastar na construção de estádios, quando se podia canalizar esse dinheiro para outras coisas que fazem mais falta no nosso país, é outra das minhas revoltas. Para além disso, quando é que o país irá ver o retorno de todo o investimento que está a ser feito? Eu arrisco mesmo a dizer que, nunca. Mas isso são outras histórias que nos levariam a outras questões.

Resta-me a consolação de que os campeonatos de futebol estão quase a acabar e que, durante alguns meses, não se vai ouvir falar nesse desporto. Para depois, voltarmos ao início de tudo; voltar tudo ao mesmo; os mesmos beijos, os mesmos gritos; a minha indiferença. Como se não houvesse mais nada para falar, a não ser de futebol.