10 março 2009

O preço de viver no interior

Este fim-de-semana foi infernal...Prestes a terminar o prazo para entrega das candidaturas ao MODCOM, lá fui "cravado" para dar uma ajuda ao processo que os meus pais estavam a pensar apresentar. A burocracia é de tal ordem e a quantidade de coisas a fazer é de tamanho tal que, o mais comum dos mortais, acredito, acabe mesmo por desistir.

O problema no meio disto tudo, prende-se com a papelada que é necessária: balancetes de 3 anos, comprovativos de pagamentos, salários dos funcionários, cadastros comerciais, declarações de ínicio de actividade,... enfim é um rol de material que nunca mais acaba. Uma empresa, dita normal, acaba sempre por ter tudo isto e mais alguma coisa à mão, porque possui fantásticos departamentos de contabilidade, onde é só pegar no telefone e pedir a um colaborador ou a outro que, em menos de nada, a coisa está em cima da sua mesa. Ora, o mesmo não acontece a quem tenha uma pequeniníssima ou mediana empresa, onde tudo é entregue a um contabilista (muitos deles sem curso ou formação para tal). Noutras situações, ainda ouço mesmo dizer "ai, eu dei tudo ao meu guarda-livros e não sei de nada". Ele, coitado, lá vai fazendo o que pode, sem se actualizar no espaço e no tempo. À falta de melhor, é o que se pode arranjar lá para o interior. Por vezes, há alternativas e bem melhores, mas se já estamos com este contabilista há mais de 20 anos, porque motivo havemos agora de mudar? Ora bem, é preciso modernizarmos a nossa empresa e, para isso, temos que alargar os nossos horizontes. E o pior, é quando é às nossas custas!!

A ajudar tudo isto, é a rede de banda larga móvel nos computadores que não nos ajuda em nada. E quando digo em nada, é mesmo em nada. Para quem está habituado a ter uma Internet ADSL com uma velocidade de 8 Mb, e de repente encontra-se a trabalhar em GPRS, e a ligação a cair quando preenchemos formulários on-line, é desesperante, com vontade mesmo de atirar o pobre coitado contra a parede em frente. E, nesta situação, apelamos à nossa contabilista de uma vida para nos facilitar a vida.

Correu mal...

Primeiro, a pobre coitada nem sabe o que é um ficheiro pdf nem acredita que a pen que eu levo dá para abrir no computador dela. Nem sequer quer que eu lhe explique como se faz. Diz que não dá e ponto final. Vejo-me obrigado a ir imprimir umas míseras folhas a um fotógrafo ali ao lado, que lá me faz o jeito. Regresso à contabilista e entrego-lhe o rol de material que ela tem que nos dar. Não tem metade do que é preciso e o resto tenho que o pedir eu.

Se desesperado estava, indignado fico... Então, você não tem isto aqui em formato digital no seu computador? Não, responde ela. Mas tenho aqui (e entega-me um maço de 52 folhas) do género disso que quer, que também dá. E o que faço eu com isso, se tenho que mandar por e-mail? Ai, não sei, diz ela. Passamos a outro assunto, para não me aborrecer. E isto aqui, você pode fazer? Ai, isso não sei o que é, mas de certeza que tem que enviar para lá uma carta para eles darem autorização, responde ela. OK. Eu depois faço no site das Finanças. Passamos à frente. E isto aqui? Ai, isso é também com as finanças; isto aqui é na Segurança Social e isto aqui nunca ouvi falar, mas veja no banco.

Saí dali com vontade de cortar os pulsos e comentei com a minha mãe "já está mais que na hora de despachar este postal, não acha?"

Adiante.

Na Segurança Social, ou melhor, na delegação regional, vulgo "Casa do Povo", a funcionária que me atende (já lá está a trabalhar desde que me tenho por gente), diz-me que também não é lá; que tenho que ir à Internet, à Segurança Directa e pedir a "passuar". Eles depois mandam por correio e é lá que tem que dar essa autorização. Mas isso não pode ser feito aqui por vocês?, perguntei eu, com vontade de me escancar a rir. Não, porque a nossa "passuar" não deixa.

OK. Vamos às Finanças.

Uma simples declaração de início de actividade, foi um atêntico quebra-cabeças. Tem que ser mesmo a cópia da declaração, igual à do arquivo ou basta o printque nós tiramos com a data?, quis saber a menina. Não sei, disse eu. A declaração do arquivo tem o quê? O que é que lhe costumam pedir os outros, quando vêm cá? Não sei, disse ela. Depende para o que é. Lá expliquei e a menina lá me responde: pois, não sei,mas se calhar é melhor levar a declaração... Pois, disse eu. Foi isso que eu pedi.

Enquanto isso, na mesa ao lado, outra funcionária desesperava com os impressos do IRS: o menino (16 ou 17 anos) que estava a ser atendido queria entregar o IRS do avô, cujo impresso estava apenas assinado pelo senhor e, num papel já todo amarrotado, tinha os valores dos rendimentos e das despesas de saúde. Para a menina preencher? Qual quê? Entregou-lhe uma canetinha bic, com a tampa bem roída e disse-lhe: tens que preencher isto. O miúdo lá responde: o quê? Eu não sei preencher isto. Ela respirou fundo e lá explicou. No fim, faltava o nº de contribuinte da entidade patronal. Pergunta ela: Quem é o patrão do teu avô? Sei lá, respondeu ele, sempre a mascar uma pastilha elástica. Então se não sabes, vai lá perguntar-lhe e ele que coloque aqui o contribuinte do patrão. O miúdo lá se levanta e sai. Comentário da menina: esta canalhada de hoje gosta mesmo de se armar em ignorante. Respondo eu: gosta de se armar, não. O problema é que esta canalhada é ignorante...

No banco: a propósito deste novo serviço MS SPOT, lá vou eu ao balcão, seguindo as instruções do site. O funcionário pergunta logo: isso é o quê? Nunca ouvi falar. Lá expliquei e fiquei de voltar na segunda-feira para ele confirmar. Responde que os terminais já estão preparados para os pagamentos de serviços. Pois, isso eu sei, disse eu, mas não estão preparados para fazer carregamentos para os telemóveis e era isso que eu queria. Ficou de confirmar não sei com quem e fiquei eu de passar mais tarde. Entretanto, liguei para a linha de apoio do banco. A assistente, muito simpática, lá me explica que tem que haver uma parametrização do nosso MB e que isso tem que ser pedido no balcão. Lá volto eu, ao que o funcionário me diz que, na circular que acabaram de receber, diz lá qualquer coisa sobre a parametrização e que ia ver o que isso era e que depois nos dizia alguma coisa.

Conclusão: Ninguém merece. O Criador lá em cima deve-me estar a castigar por alguma monstruosidade cometida por mim noutra vida passada, só pode.
Se encontramos no interior do país, qualidade de vida, sossego e ar puro, também é verdade que encontramos por lá muita lentidão dos serviços (para não lhe chamar outra coisa pior). E não sei o que é melhor: se a agitação e a poluição da cidade; se certa incompetência que grassa em muitas dessas esquinas.
Com isto tudo, estou deprimido. Vou tomar um banho e vou para a cama. Hoje não me apetece encarar a cozinha e fazer o jantar. E amanhã não posso mesmo fugir do trabalho!!!

1 Comentários:

Maria Paula Ribeiro disse...

Amigo,

Realmente foi uma aventura!
:-) Tinhas era tantas saudades disto que não conseguiste reter as emoções, lol lol

Mas ninguém merece não...

E tens ainda uma contabilista pior que a minha! ;)

Não desanimes amigo! Um dia irá dar para rir....

Rappeles toi des conneries à Dona Luisa!

Jinho grande