13 novembro 2009

Saudade

Desde que me tenho por gente, que sinto em mim o gosto pela literatura. Adoro ler e escrever, revolto-me com os atropelos gramaticais que grassam por esse Portugal fora e sou incapaz de tratar mal a nossa língua.
Quem sabe, esse gosto não o adquiri pela mão da minha tia preferida: chama-se Almerinda Pinto, Mindinha, como carinhosamente sempre a tratámos.
Nos idos anos 80 do século que não deixou saudades, eis que ela editou, com a ajuda de um amigo que o dactilografou, o seu primeiro livro de poesia.



Na altura do lançamento, "Realidade" custava a módica quantia de 250$00, acrescido de 50$00 para despesas de envio.
Não me quero aqui pronunciar sobre o valor exorbitante que os livros, nos dias de hoje, já atingiram, mas sim, o alcance de um sonho, inatingível para muitos.
Com muito esforço, a minha tia Mindinha, acabou por trazer ao de cima esta sua vontade em se afirmar e em partilhar com outros os seus mais pequenos segredos. Tudo isto lhe saiu do bolso, dado que não teve ajudas de ninguém, nem tão pouco uma editora que publicasse este seu livro.
Com simples textos que retratavam a sua dor, a sua mágoa, enfim, a sua "Realidade", este é um livro que sempre esteve presente na minha biblioteca pessoal.
Há cerca de três anos, fui dar com uma caixa amarelada, em casa do meu avô, contendo alguns exemplares. Uns mais amarelos do que outros, porque o tempo e o pó não perdoaram, trouxe-os comigo. Hoje, tenho ainda 15 exemplares e a minha maior glória é ter oferecido um exemplar a duas amigas no Natal passado. Este ano, vou oferecer mais dois neste Natal que se aproxima.
O livro começa com o seguinte poema:


Saudade


Saudade!
Saudade palavra triste,
Triste se apoderou de mim...
Desde o momento que partiste,
Os dias não têm fim.


Como poderia sonhar,
Sonhar antes de partir.
Que tão longe ia estar,
E tanto tempo sem sair.


Os dias conto sem parar
Até ao dia que vou voltar.
Esse dia tanto demora,
E eu não suporto mais uma hora.


Só te queria abraçar!
Abraçar-te para sempre
E baixinho suspirar:
Mãe, tu és minha, para sempre.


Para a mais querida e adorada tia do mundo, um beijinho enorme deste teu sobrinho mais velho!!

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