15 novembro 2003

Vai ser publicado, na próxima segunda-feira, dia 17, no suplemento "das ARTES das LETRAS" juntamente com O Primeiro de Janeiro, o seguinte artigo, a propósito do I Encontro de Escritores Locais "Vozes do Douro".


Lutar contra o fatalismo


Promovido e organizado pela Câmara Municipal de Lamego, o I Encontro de Escritores Locais "Vozes do Douro", vai ter lugar nos próximos dias 21 e 22 de Novembro. Acima de tudo, pretende-se, com este evento, "dar voz aos durienses", tal como nos contou o vice-presidente e vereador dos assuntos sociais, Joaquim Sarmento.

Retomar as tertúlias de Lamego, no respeito pela liberdade e pluralidade. É tendo por base este desiderato, que se insere o encontro de escritores locais, alargado a todas as vozes do Douro Sul, com obras publicadas e amiudadas vezes esquecidas pelos órgãos de comunicação social. Tendo por pano de fundo, o rio Douro, tão perto e, ao mesmo tempo, tão afastado desta cidade, Património Mundial, serve este evento como uma forma de o divulgar, através da escrita. Desde sempre, o Douro fez parte da vida e do quotidiano destas gentes e destas terras; daí a sua envolvência junto daqueles que sofrem as agruras da interioridade e que sentem na pele, as dificuldades em fazer passar a sua mensagem.
Olhar para o País na sua coesão e na sua dimensão nacional. Partindo deste objectivo, Joaquim Sarmento traça, aqui, as premissas daquele que será este I Encontro, direccionado não só aos lamecenses ou aos durienses, como também a todos os beirões e aos portugueses em geral. Nesse sentido, com este evento, ir-se-á proceder ao lançamento do livro "Vozes do Douro - antologia de textos durienses" e que conta com a participação e colaboração de cerca de meia centena de textos de escritores locais. Após a sessão de abertura, que contará com a presença de Mário Soares, será feita a apresentação pública deste livro, a cargo de Gaspar Martins Pereira, director da comissão instaladora do Museu do Douro. No segundo dia, este evento terá dois painéis, relacionados com esta temática. O primeiro painel abordará "O Livro: uma abordagem à identidade local ou regional/papel dos intelectuais no combate à interioridade", cujo debate será coordenado pelo jornalista Carlos Pinto Coelho; o segundo painel, coordenado pelo escritor Fernando Dacosta abordará o tema "Livro e Tertúlia: divórcio consumado ou retorno às origens?". Por fim, a sessão de encerramento caberá ao Bispo de Lamego, D. Jacinto Botelho.

Retomar tertúlias...
Numa altura em que os espaços de convívios e as tertúlias, praticamente desapareceram, Joaquim Sarmento é de opinião que "estamos limitados aos programas de qualidade duvidosa que as televisões nos tentam impingir" e, nesse sentido, defende "um retorno às origens, ao convívio, através da leitura, da reflexão, de debates e de colóquios". Paralelamente a isso, "este livro poderá vir a ter um papel reflexivo à volta desta temática", acrescentando que, "com este encontro, queremos fazer sobressair uma expressão de força e de autenticidade, destacando-se o espaço de beleza única e rara como é o Douro".
Uma outra mensagem que se pretende com este encontro, tal como nos salienta Joaquim Sarmento, passa por "lutarmos contra o fatalismo, na medida em que devemos acreditar nas nossas capacidades e nos nossos valores, tanto mais que, neste momento, não existe qualquer discriminação positiva em favor das regiões mais desfavorecidas". Com efeito, numa altura em que o Litoral continua a apresentar um desenvolvimento mais acelerado em relação ao Interior e, numa fase em que o Interior continua a ser mais prejudicado, Joaquim Sarmento garante que "não basta termos a riqueza e a solidariedade nacional; é necessário exprimirmo-nos, sem lamúrias e com a grande convicção de que somos capazes de dar o salto qualitativo". De igual forma, "nós temos capacidades, temos valores e temos massa crítica para que isso possa acontecer". Daí que, a principal mensagem que se pretende transmitir para o público em geral, passa por, desde logo, "ultrapassar a lamentação que nos conduz a um pessimismo crónico que nos é prejudicial".

Cidade cultura
Lamego é, como sempre foi, uma cidade que se envolve no Douro; de igual forma, o Douro abrange esta cidade beirã. Também os lamecenses sempre se sentiram atraídos pelo Douro e, da mesma forma, o Douro convida os lamecenses a ele se juntarem. Joaquim Sarmento partilha desta mesma ideia e salienta que "uma parte importante do concelho identifica-se com o rio Douro; daí estar inserido, e muito bem, no Alto Douro Vinhateiro - Património Mundial". Por outro lado, "essa forte relação tem que ser aprofundada cada vez mais, na medida em que são muitas as vozes e as pessoas que querem afastar Lamego do Douro", nomeadamente através da criação das comunidades urbanas, que terá a cidade de Viseu como cidade principal dessa mesma comunidade.
Considerada como a cidade portuguesa com mais monumentos por metro quadrado, Lamego pretende, no futuro, continuar a dar cartas no que diz respeito à cultura e, tal como nos confessa Joaquim Sarmento, "Lamego vai continuar a impor-se pelo seu património, o que nos orgulha e, a par disso, temos uma agenda cultural razoável, muito diversa", acrescentando que "é uma cidade cultural que tem que se impor ao nível da cultura e do turismo de qualidade". Por conseguinte, "estamos a dar grandes passos nesse sentido".
Quanto a uma segunda edição deste Encontro de Escritores Locais "Vozes do Douro", Joaquim Sarmento confessa que, "primeiro que tudo, esperamos que esta edição produza o sucesso que estamos a idealizar" e, depois, "teremos que fazer uma avaliação do que foi este I Encontro, para que possamos estruturar a segunda edição", conclui.

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